Chamas e Espinhos (ROMANCE LÉSBICO)

O broto da amizade

Estava perto do anoitecer e Maria já havia perdido a noção da hora, ela se levantou da cama depois de ter tirado um curto cochilo e começou a caminhar entre algumas obras de arte que estavam nos suportes para fita-las. Acompanhando os detalhes com o olhar para cada uma delas, um fio de lembrança fluía em sua memoria de quando estava fazendo-as, se lembrava de cada micro sensação e dor que assolaram em seu peito antes de joga-las para fora se materializando em pinturas de flores. Por um instante, olhou para sua mãos e sentiu um sensação de sujeira nestas, como se estivessem impuras para toca-las, de usufruir a beleza da arte da antiga Maria, sentia a suas mãos não bem-vindas para retornar pintar ou de pelo menos desenhar o que estivesse em sua mente e em seu coração naquele instante.

Depois de ter dado uma pequena volta ate o banheiro e tomado uma demorada ducha quente, retornou novamente ao canto da parede para se sentar na mesma posição de antes. Ao longe, conseguia ver a câmera apontada diretamente para si e sentia o mesmo olhar magnético através do aparelho. Aquilo não a incomodou e ajeitou as suas pernas para ficar cruzadas e voltadas em direção para aquele grande olho. Não sabia que horas Nicole havia saído e muito menos a hora que ela ira retornar, só sabia que um dos funcionários haviam lhe trazido um lanche, deveria ser o café da tarde, porque a janta teria certeza que seria acompanhada dela. Ficou ali na mesma posição sentada no chão por um bom tempo, calculava ser mais de uma hora e estava quase tirando um outro cochilo quando sentiu o ruído de uma barulhenta chave ser girada abrindo as grades, e em seguida, os passos largos e pesados se aproximarem de si. Não levantou a cabeça para fita-la e não abriu os olhos, apenas ficou quieta fingindo estar cochilando com uma serenidade que só alguém sem preocupação nenhuma no mundo tem o poder de usufruir.

Nicole parou os passos em sua frente e ficou olhando-a de cima por um bom tempo, iria manda-la se levantar, mas não se aguentou e ela mesma se ajoelhou em frente a Maria.

– Por que esta sentada aqui no piso frio ao invés de se deitar na cama? – Sua voz soou um pouco agressiva, mas isso meio que saiu da maneira natural da garganta dela.

Maria nesse exato momento abriu os olhos e a fitou um pouco confusa e assustada, coloca as mãos no chão de maneira rápida e fazendo um movimento para se levantar.

– Eu perdi a noção da hora. – Esfregou os olhos e volta a olhar para Nicole que já estava de pe.

– Não quero mais te ver sentada aqui no chão entendeu? – Ela da um passo em frente a Maria a encarando, enquanto tentava emitir uma sensação na tentativa de passar medo através do seu olhar. Maria no começo aceitou aquela "intimidação", mas aquilo não passava de reação externa.

Balançou a cabeça em afirmação e mais uma vez baixou o olhar para fitar a calça preta social que Nicole estava vestindo. Porem, nesse curto período a morena da mais outro passo e fica a poucos centímetro dela, pega seu rosto de maneira firme e com os dedos deslizou ate parte de trás da cabeça de Maria e entrelaçou esses nos cabelos âmbar da mesma, puxa-os para baixo, fazendo com que a menor de maneira forçada virasse a cabeça para cima e encarar aquele olhos topázio e frios.

Nicole ficou um bom tempo analisando o olhar dela, tentando ler no fundo de sua alma o que ela estaria pensando, e se essas reações que ela estava tendo ultimamente eram genuínas. Os cabelos da garota dos olhos âmbar ainda estavam úmidos, seu rosto sem maquiagem estavam limpo e brilhante, e Nicole pode ver neles alguns vestígios da característica do antigo rosto da mulher com quem se casou, aquele rosto amado que guardavam as memorias de sua mãe. Para ela, Maria não mudara nada, ainda continuava usando os mesmo músculos de sua face para fazer as expressões, o mesmo olhar de medo e ansioso de quando se aproximava dela, e a mesma respiração descompensada de quando lhe tocava. Não encontrou nada de diferente em seu olhar, e se tivesse algo, Maria estaria escondendo muito bem, muito bem ao ponto de engana-la, mas não conseguia acreditar que ela tivesse obtido essa habilidade, não a fraca Maria que sempre conheceu e provavelmente sempre será.