Capítulo 52 - Você se sente solitário porque não é o que aparenta

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Brasil se despediu da Copa num jogo sofrido até o último minuto, mas vim com um capítulo novo para alegrar o coração de vocês <3


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JUNGKOOK


Observo a paisagem correr através da janela.

Ève está ao meu lado, Taehyung a nossa frente. A mão dela continua firmemente agarrada a minha, a perna dele continua pressionada contra a minha. O silêncio impera desde que entramos no trem, rumo a Rouen. Rumo a cidade na qual passei boa parte da vida, onde minha família mora. Rumo ao que eu já deveria ter feito há tempos: encarar meus pais.

É triste pensar que foi necessário quase destruir nosso relacionamento e magoar as pessoas que eu amo, só para perceber que não há nada pior do que permanecer no "e se". Claro que o receio ainda existe e eu gostaria de não enfrentar uma situação complicada, nem criar uma relação insustentável com meus pais. Mas, independentemente de qual seja a reação deles, terei de aceitá-la. É melhor encarar as consequências, do que viver à sombra do que poderiam ser.

Porque eu finalmente entendi que, quando deixamos o medo dominar nossa vida, terminamos em um lugar muito pior do que àquele que tentamos evitar. Foi assim da vez que pateticamente fugi de casa por não conseguir falar dos meus sentimentos para Ève na época em que estávamos nos apaixonando por Taehyung e se repetiu naquela cena lamentável no coquetel semanas atrás.

Todos nós acabamos enfrentando algo desagradável por causa de quem somos e como vivemos, mas, ainda assim, meus companheiros mantiveram as cabeças erguidas e seguiram em frente.

Não quero ser o único preso nessa redoma de covardia.

— Estamos quase chegando. — Ève comenta em voz baixa.

Desvio a atenção para ela e, em seguida, olho na direção do painel pendurado no corredor.

— Mais dez minutos. — murmuro.

O trajeto de Paris para Rouen dura pouco mais de uma hora.

Mas hoje, excepcionalmente, parece ter durado uma eternidade.

— Será que sua irmã já chegou na estação?

— Acredito que sim.

Sendo a única da família que conhece meu "segredo", resolvi pedir a ajuda da Domi, que não hesitou em aceitar. Sobretudo ao descobrir o que aconteceu na noite de lançamento do coquetel e o desfecho beirando o deprimente que ele teve. Apesar de estar lá, minha irmã não soube dos detalhes sórdidos, ainda que tenha notado como os ânimos entre Ève e eu ficaram estranhos.

Nossos pais apenas comentaram sobre conhecer um colega e não tocamos mais no assunto.

O olhar de Taehyung pula de Ève para mim. Entre nós três, ele é quem mais esteve quieto o caminho inteiro, e não quisemos pressioná-lo a falar nas poucas vezes que o fizemos. Ao contrário da nossa mulher, que tenta encarar de maneira positiva essa nova oportunidade, ele não quer criar falsas esperanças como da última vez. E eu entendo perfeitamente como se sente.

Não demora para o trem diminuir gradativamente a velocidade até entrar na estação Gare de Rouen. O anúncio do maquinista avisa que chegamos e a comoção dos passageiros se preparando para sair, denota que não há outra opção além de fazer o mesmo. Não trouxemos mais do que um par de mochilas. Nossa intenção não é prolongar a estadia, de qualquer forma.

Triple AmourOnde histórias criam vida. Descubra agora