Capítulo 62

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Capítulo 62 💐

|Luan|

Eu já estava na cozinha, esperando por Cecília. Fico me perguntando o que ela achou do vestido, se ficou bom, se serviu em seu corpo, se ela realmente vai aceitar o presente. São tantas perguntas, que me deixam inquieto.
— Oi, me desculpa pela demora. — Cecília entrou de uma vez na cozinha. — Eu estava experimentando um vestido que ganhei de presente. — fez sua melhor cara de desentendida.
— Você gostou do presente? Me desculpa se fui invasivo, eu só quis...
— Eu amei o presente! — juntou as mãos, sorridente. — O vestido ficou perfeito no meu corpo, serviu direitinho, eu só não vesti ele agora, porque vou mexer nas panelas ali e tenho medo de deixar ele sujo de manteiga. — franziu o nariz. — Mas vou levar comigo na viagem e vou usar lá no Hotel Fazenda. Muito obrigada, eu não desconfiei, nem sonhei com essa possibilidade.
— Fico feliz que tenha gostado! Fiz o possível pra você não desconfiar de nada. — ri, levantando meus ombros.
— Eu também amei o cartão que enviou, guardei no meu baú com muito carinho. Suas palavras foram tão sinceras quanto você, obrigada novamente!
— Te ver feliz, me faz feliz também. E agora posso respirar aliviado em saber que não fui mal interpretado por você. — abaixei meus ombros.
— Não tem como te interpretar mal, Luan, tudo que você fez é de coração, eu seria muito boba e durona se te interpretasse de uma maneira tão errada e que não tem nada a ver com sua personalidade. — puxou uma cadeira ao meu lado e sentou-se. — Meu dia foi incrível, eu amei o passeio que fizemos, amei todos os lugares que passamos e amei os presentes que me deu. E estou amando saber que vamos terminar nosso dia da melhor forma possível, enchendo a barriga! — passou a mão sobre seu abdômen e nós rimos. — E sabe de uma coisa que está faltando?
— O quê? Em que sentido você diz?
— Um beijo. — se aproximou mais do meu rosto.
— Não seja por isso!
Cecília inclinou seu rosto, roçando seus lábios nos meus. Fechei os olhos, sentindo seu perfume adocicado, que a deixava mais delicada e atraente. Me envolvi tanto no beijo, que soltei a bengala das minhas mãos, deixando-a cair ao lado da cadeira onde eu estava sentado. Com as mãos desocupadas, emoldurei seu rosto, apertando seus lábios contra os meus, deslizando os polegares sobre as maçãs de seu rosto. Quando paramos, Cecília se afastou brevemente, mas voltou depositando um beijo rápido em minha boca.
— Deixou cair. — Cecília abaixou-se e me devolveu a bengala.
— Me perdi tanto na sua boca, que não tive forças pra segurar a bengala. — respondi e nós rimos.
— Eu vou preparar nosso jantar logo, está ficando tarde e você precisa beber os remédios da noite. — afastou sua cadeira e deu a volta no balcão da cozinha.
— Vai me contar o que vai ser o prato da noite?
— Burritos. — respondeu, mexendo nas panelas sobre a bancada da pia. — Recheados com carne, tomate e orégano e outros recheados com frango. E te garanto, não vou demorar pra fazer!
— E pra acompanhar, vamos beber vinho! — sugeri. — Tem um fechado na geladeira, Margareth sempre coloca pra gelar quando ela percebe que o outro acabou.
— E prometo colocar pouca pimenta. — aproximou seu polegar e o indicador, bem próximos de seu olho.
— Confio em você. — encostei minha bengala no canto entre a parede e a mesa.
Enquanto Cecília preparava nosso jantar, ela conversava, contando seus momentos favoritos no restaurante de sua família e como se ela não pudesse ser mais admirável, me contou que parte do dinheiro que recebia trabalhando aqui, ela depositava na conta de sua mãe, para juntarem o suficiente e reabrirem o restaurante. Eu, definitivamente, não encontro defeitos nessa mulher.
— Escutou o que eu disse? — Cecília chamou minha atenção, me fazendo piscar os olhos.
— Tem vezes que não consigo prestar atenção em você e no que você fala ao mesmo, fico perdido. — comentei e ela riu, encostando sua cabeça no ombro. — Mas eu já entendi que não vou achar defeitos em você!
— Ah, mas eu tenho defeitos, como todo mundo! — Cecília balançou a colher na minha direção. — Quando estou na TPM, eu fico tão insuportável que nem eu me aguento. Tenho a péssima mania de gostar e não gostar de uma pessoa de acordo com minha primeira impressão dela e muitas vezes já mordi a língua por causa disso. E claro, eu falo demais! Sou muito intrometida, não é à toa que na minha adolescência quase ninguém queria fazer amizade comigo. — franziu o nariz, levantando os ombros. — Tem vezes que gosto de ser dona da razão também, mesmo não tendo razão.
— Também tenho meus defeitos. — comentei, abaixando meu olhar para a mesa. — Tenho a mania de ficar me diminuindo, principalmente depois que escuto alguma coisa que me desagrada. Às vezes me sinto alguém sem esperanças e de pouca fé, desacreditado de que um dia eu vou poder andar normalmente, ter minha vida de antes e um dia, nem que seja um único dia, poder montar outra vez em Las Vegas.
— Rezo para que você realize seus sonhos e tenho fé de que você vai alcançar tudo que almeja. Rezo ainda, para que Deus me permita estar presente na sua vida, vendo você vencer todos esses obstáculos.
— Não quero te desanimar, mas talvez você vá demorar muito pra ver isso acontecer ou talvez nem veja, porque não tenho mais as mesmas esperanças de antes. — suspirei fundo.
— Você acabou de falar do seu defeito e olha só... Você é impaciente, não entende que tudo tem sua hora e se eu digo que acredito na sua recuperação, é porque eu sei que ela pode ser real! — insistiu.
Não respondi, apenas olhei na sua direção e sorri para não parecer mais desanimado do que já sou, um sorriso forçado. Tocar nesse assunto, me deixa desesperançoso e desanimado. Talvez ela esteja certa sobre eu ser impaciente, mas já são cinco anos nessa situação.
— Terminei. — Cecília quebrou o longo silêncio que havia se instalado entre nós dois. — Vou colocar dois no seu prato, você prova um em me diz o que achou! Se gostou, eu ganho dois beijos de recompensa. Se não gostou, eu ganho pelo menos um beijo pela dedicação, combinado? Combinado. — afirmou, me fazendo rir.

...

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