Capítulo 11

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Capítulo 11 💐

|Luan|

— Desculpa, eu estou falando demais? Se quiser, eu vou mais devagar nas respostas, sempre me empolgo, tenho mania de falar demais, responder mais que o pedido. Minhas respostas dissertativas na faculdade sempre ocupavam todo espaço disponível e mais um pouco, os professores queriam me matar. — fez uma pausa. — Falei demais outra vez, né?!
— Não, tudo bem. Gosto de conversar pra me distrair um pouco. — fui sincero. — Bom, eu acho que não tenho outras perguntas, seu currículo está bem completo, agora só iniciar o teste nessa semana, acredito que vamos nos dar bem.
— Eu também acho! — respondeu empolgada.
— Luan? — Erick invadiu minha sala de uma vez, sem nem ao menos bater na porta. — Desculpa, não sabia que estava ocupado.
— Tudo bem, eu e Cecília terminamos já. Fique à vontade para descansar da viagem, Cecília.
— Obrigada e qualquer coisa, me chama! — afastou sua cadeira e saiu, cumprimentando Erick brevemente.
— Gata demais. — ele sussurrou, fechando a porta. — Dizem que as mulheres latinas são muito quentes! Devia aproveitar que tem uma mulher dessas cuidando de você e tirar uma casquinha...
— Eu exijo que você respeite a Cecília. Ela é uma profissional séria, não uma garota de programa como você está retratando. — esbravejei, impaciente.
— Qual é? Nossa amizade anda abalada demais, cara! — negou com a cabeça. — Não éramos assim.
— Você virou um babaca depois que se meteu com minha irmã. — franzi o cenho. — Você era um cara legal...
— Não tenho mais nada com sua irmã, ela vai embora para Nova Iorque e eu não faço questão de manter um relacionamento à distância. — sentou-se em uma das cadeiras na minha frente.
— Quem sabe com ela longe, você melhore um pouco. — murmurei.
— Com ela longe, eu vou aproveitar minha vida de solteiro. — riu, mordendo o lábio inferior. — Começando pela enfermeira nova, sensacional, você tem o número dela anotado aí?
— Erick? — o encarei, confuso. — Você perdeu completamente a noção, cara! Olha, eu estou cansado demais, quero ficar sozinho, dormir, você está me deixando irritado com essa conversa sem fundamento. Vai pra sua casa, é melhor do que entrarmos em mais uma discussão!

(...)

Acordei eram quase cinco horas da manhã. Tive uma péssima noite de sono, mesmo tomando o remédio para dormir, acho que a dor falou mais alto. Me sentei devagar sobre a cama, tentei puxar minha bengala, mas ela escorregou e caiu. Não posso abaixar, de forma alguma, são recomendações médicas, mas não quero apertar a campainha para chamar Cecília justamente em seu primeiro dia de teste, apesar de que esse poderia ser o começo da experiência dela.
— Luan? — escutei sua voz atrás da porta, enquanto eu tentava pegar minha bengala com os pés. — Tudo bem? Eu estava acordada e escutei alguma coisa caindo.
— É... foi a bengala. — respondi, soltando um suspiro pesado.
— Não pega! — ela abriu a porta de uma vez e foi entrando. — Eu fui dormir cedo demais e acordei cedo demais também. — ela pegou a bengala no chão e entregou nas minhas mãos. — Aproveitei pra acordar e ver o nascer do sol pela janela. Você dormiu bem?
— Não muito, tive uma dor nas costas que me deixou incomodado, se tive três horas de sono, foi muito.
— Você toma algum remédio quando sente essas dores pela madrugada?
— Tomo, é aquele da caixinha azul com amarelo. — apontei para uma prateleira onde ficavam meus medicamentos, incluindo pomadas e massageadores. — Eu sempre deixo perto da cama, mas esqueci dessa vez.
Cecília pegou a caixinha, encheu o copo d'água com a jarra que ficava sobre o criado-mudo e me entregou. Coloquei um comprimido na boca e bebi água por cima, espero que agora melhore um pouco, talvez o suficiente pra que eu possa dormir em paz.
— Obrigado. — agradeci, enquanto ela guardava a caixinha no lugar.
— Por nada! Agora tenta dormir, logo o remédio faz efeito. — ela se aproximou, ajeitando os travesseiros sobre a cama. — Pronto, arrumei os travesseiros de forma adequada, pode deitar novamente.
— Certo, obrigado mais uma vez! — subi minhas pernas novamente para cima da cama e me deitei bem devagar.
— Vou puxar as cortinas escuras para o quarto não ficar claro com o amanhecer. — ela puxou as cortinas azul-marinho e depois as brancas. — Estarei acordada o dia todo, pode me chamar quando precisar!

[...]

Eu conseguia escutar as pessoas gritando quando meu nome foi anunciado na próxima montaria. Eu conseguia ver as luzes da arena iluminando meu rosto. Eu conseguia sentir o calor do chapéu na minha cabeça.
— Pronto, cowboy? — senti alguém bater nas minhas costas, enquanto eu terminava de me preparar em cima do touro.
— Pronto! — balancei a cabeça positivamente e em segundos, a porteira abriu.
Era sempre a mesma emoção, era sempre o mesmo frio na barriga. Coração disparado pela adrenalina e pela felicidade de estar montando mais uma vez. São os oito segundos mais longos e emocionantes da minha vida, impossível descrever a sensação em cima desse animal.
Oito segundos e eu fui arremessado de cima do touro, caí de bruços e senti um pisão nas costas, o suficiente pra me fazer gritar de dor. E a dor era tão insana, que eu fiquei completamente fora de mim, o mundo girava ao meu redor e as pessoas gritavam, mas não eram de felicidade, não eram gritos de vitória, eram gritos de desespero.

[...]

— Luan? — escutei uma voz me chamando e abri os olhos aos poucos. — Tudo bem? Judite pediu pra te acordar, você precisa tomar os remédios da manhã. — Cecília estava bem a minha frente, mas se afastou, me fazendo abrir os olhos de uma vez.
— Quantas horas são? — fui me sentando devagar sobre a cama.
— Nove horas. — ela pegou um copo d'água e me entregou junto com o comprimido. — Você está suado, dormiu com muitos cobertores?
— Tive um pesadelo, só isso. — murmurei, tomando água por cima do comprimido.
— Entendi. — ela se limitou a dizer, mas eu podia sentir que sua curiosidade gritava pra saber qual foi o pesadelo. — Seja lá o que foi o pesadelo, não passou de um pesadelo.
— Eu queria que fosse só um pesadelo. — entreguei o copo em suas mãos.
— Eu não sabia... desculpa. — se afastou, guardando o copo. — Eu sempre falo demais, que coisa! — escutei ela sussurrar e sorri, negando com a cabeça. — Vai precisar de ajuda em alguma coisa? A Judite disse que você gosta de se arrumar sozinho, mas se precisar de ajuda, pode me chamar, estarei aqui por perto.

...

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