Capítulo 52

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Capítulo 52 💐

|Cecília|

Entrei naquela viatura com minhas pernas bambas e o choro preso na garganta.
O policial travou as portas, ajeitou seu retrovisor e ficou me olhando o tempo todo, enquanto dirigia pelas vias mais rápidas da cidade.
— Estou levando mais uma mexicana. — ele se comunicava pelo rádio com outro policial. — Direto para embaixada, como foi ordenado.
Puxei meu relicário de dentro do meu vestido e apertei com força o pingente de Nossa Senhora de Guadalupe.
— Nossa Senhora de Guadalupe, santa protetora dos mexicanos, interceda por mim. — sussurrei, fechando meus olhos. Senti as primeiras lágrimas escorrerem, eu estava, de fato, desesperada e assustada. Só quero ver o Luan novamente, só quero sair desse carro.
O carro parou na embaixada mexicana, pessoas saindo e entrando o tempo todo, cheio de autoridades policiais.
Quando desci do carro, uma mulher saía algemada e gritando para que tivessem misericórdia dela, porque ela precisava de trabalho.
— Vai acontecer o mesmo com você. — o guarda segurou meu pulso e me puxou na direção da entrada principal. — Todos que param aqui na embaixada, são deportados! — entramos e assustei ao ver a quantidade de imigrantes sentados no chão, nas cadeiras e algumas mães com crianças de colo. — Mais uma pra ser deportada. — o guarda me colocou na frente de um balcão, jogou meus documentos na minha frente e se afastou, sem tirar sua atenção de mim.
— Preciso fazer uma ligação. — tentei pegar minha bolsa sobre o balcão, mas o guarda puxou pra longe. — Eu tenho uma autorização judicial, vou ter que soletrar? — elevei a voz, esmurrando o balcão. Todos me olharam no mesmo instante e eu engoli seco, sei que piorei a situação.
— Telefones ocupados, entra em uma fila e espera. — o outro guarda por trás do balcão, guardou minha bolsa e carimbou a palma da minha mão. — A fila é ali! — apontou para uma fila extensa, para dois únicos telefones.
Não vou baixar a guarda pra cima desse babaca.
— Se eu tenho a porcaria de um celular, por que vou ter que usar aqueles? — exclamei pausadamente. — Quando chegarem com minha autorização judicial, vou esfregar ela na cara de vocês!

Eu já estava ficando impaciente. Não posso ligar para o Luan, nem pra minha mãe, nem pra ninguém e para piorar a situação, o Luan não apareceu aqui, nem o Antony e se eles preferirem me deixar sozinha ao invés de arrumarem confusão com as autoridades policiais?
— Por que tenho que ficar nessa sala? — questionei o guarda que abria a porta de uma sala, cheia de outras mulheres.
— Porque sim. — soltou meu pulso. — É uma cela disfarçada, pra gente não parecer americanos terríveis!
— Cecília Garcia Flores. — escutei alguém chamar meu nome.
— Sou eu! Sou eu! — empurrei o guarda para o lado, mas ele voltou a segurar meu braço. — Estão me chamando, a vossa senhoria, é surda? — levantei as sobrancelhas.
— Eu vou te levar lá. — voltou a me puxar na direção do lugar onde eu estava anteriormente.
Mas eu consegui me soltar e fui andando sozinha, na sua frente. Meu coração quase arrebentou de alívio em ver o Luan, o Antony e um outro senhor engravatado, certamente o advogado.
— Onde você estava? — Luan questionou assim que me aproximei. — Eles te machucaram? Quem foi o guarda que te trouxe pra cá? Você está bem?
— Conta como o guarda te tratou! — Antony apontou na direção do guarda que me abordou na porta do supermercado.
— Estou bem, na verdade, agora que estou bem, porque antes eu achei que teria um infarto. — abanei as mãos impaciente.
— Sou o advogado responsável pela autorização judicial de Cecília Garcia Flores, aqui está... — o homem de gravata, colocou um papel sobre o balcão, na frente do guarda que carimbou minha mão. — autenticada, autorizada e amparada pela lei americana. Sugiro que liberem ela agora, ou as coisas se complicarão, senhor policial!
— Eu disse que tinha uma! — levei as mãos na cintura. — Agora vamos embora, Luan, por favor!
— Só um minuto... — voltou sua atenção para o guarda no balcão. — Como souberam que ela era mexicana? Saem por aí abordando as pessoas na rua?
— Recebemos uma denúncia anônima. A pessoa disse que quem era e ainda enviou uma foto, recebemos várias denúncias desse tipo! Foi dito que ela não possuía o visto e estava ilegalmente nos Estados Unidos, então cumprimos com nosso dever de trazê-la pra cá.
— E como acharam a Cecília tão rápido assim? — Luan questionava impaciente.
— A pessoa que denunciou disse que ela poderia ser encontrada no referido supermercado. E não posso dar mais informações, senhor. Já fez o que tinha pra fazer aqui e a mexicana está liberada. — o guarda colocou minha bolsa sobre o balcão, com meus documentos.
— Vamos embora agora? — pedi outra vez e Luan parecia perdido nos seus pensamentos.
Antony e o advogado de Luan saíram na frente e eu fui atrás, acompanhando Luan. Me sinto mal por fazer ele vir até aqui por irresponsabilidade minha, eu devia ter ficado na fazenda e esperado ele me entregar a autorização judicial.
— Muito obrigado por vir assim que liguei, doutor Arnold. — Luan agradecia seu advogado.
— Obrigada por me ajudar, se não fosse por essa autorização, eu estava ferrada. — também agradeci ao doutor Arnold.
— Agradeça ao Luan, ele que me pediu pra fazer sua autorização com urgência. — Arnold me deu um breve sorriso. — Eu apenas cumpri com meu dever de advogado e sempre que puder ajudá-los, estarei à disposição. Mas... — fez uma pausa, suspirando fundo. — Eu consegui uma autorização estendida, quando o prazo dela acabar, você precisará ter o visto em mãos. Estou fazendo o possível para adiantar o seu visto, espero que dê certo!
— Vai dar certo. — Luan me olhou e eu sorri, um pouco apreensiva.
Depois de agradecermos e nos despedirmos de Arnold, fomos para o carro, onde o motorista de Luan já estava a nossa espera.
— Certeza que foi a Judite. — Antony comentou antes de entrarmos no carro.
— O que disse? — Luan franziu o cenho, olhando para Antony.
— Eu sempre acompanhei Judite no supermercado que levei Cecília, ela sabia que ia levar a Cecília lá. Ela é a única pessoa provável naquela casa que sabia que a Cecília viria na cidade.
— A Judite não faria isso! — Luan prontamente a defendeu.
— Nem dona Margareth, nem a Rose, nem o Antony, muito menos o motorista e você também não me denunciaria de propósito. — comentei, chamando a atenção de Luan. — A Judite me detesta desde o dia que brigamos. Entendo que goste dela, Luan, mas não tem mais ninguém que poderia me denunciar tão obviamente assim!

...

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