Cair em ruinas?

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Dias se passaram até que a bendita coletiva estivesse pronta para acontecer. O auditório da empresa estava lotado, com todos os assentos ocupados por profissionais da área de informações. Havia até mesmo jornalistas de outros estados.

O assunto tinha tomado uma repercussão maior do que ele pensou que tomaria, o empresário era criticado por todos os lados. A cidade inteira e até as pessoas de fora tomaram as dores dos pescadores. Ainda havia uma multidão na porta de sua empresa, e alguns pescadores se recusavam a voltar para sua rotina anterior, eles estavam obcecados pela sereia que nem sequer viram.

Quando chegou a hora, Jensen subiu em cima do palco, e o burburinho de vozes se calou. Ele olhou para o auditório, mas tudo o que conseguiu ver eram silhuetas e sombras. O homem sentou na bancada improvisada em cima do palco, e pegou o microfone.

Aquela coletiva estava passando ao vivo em quase todos os canais, os manifestantes colocaram um telão do lado de fora, apenas para assisti-la. Ele tinha que ser objetivo, e falar apenas o necessário.

─ Recentemente saiu uma nota da prefeitura ─ Jensen Christopher começou o discurso. ─ Onde dizia que, a meu pedido, as recompensas e as buscas pela tal sereia estavam encerradas. Como esperado, isso gerou muito tumulto e revolta. Eu não tiro a razão de nenhum de vocês. No entanto, estou aqui para esclarecer os fatos.

Ele se levantou e começou a caminhar pelo palco enquanto falava. Sua energia e postura afetavam a todos, que prestavam atenção em cada palavra que o homem atraente dizia.

─ Vamos começar com uma pergunta: Qual o objetivo da prova deles em nosso mar? ─ Ele parou no centro do palco, colocando a mão livre no bolso.

Atrás dele, um telão apareceu, rodando notícias antigas, imagens velhas e até mesmo um documentário.

─ Eu não preciso lembrar a vocês que atualmente existem leis protegendo o povo do mar ─ Jensen fez uma pausa quando houve burburinho no auditório. ─ Também não preciso lembrar a vocês o que aconteceu muitos anos atrás, quando o povo do mar e o povo da terra entraram em guerra.

Ele voltou a andar pelo palco, gesticulando com a mão.

─ Se passou um mês e nada foi encontrado, homens e mulheres passaram dias e noites em alto mar, algum deles encontrou alguma coisa? ─ Jensen levantou a sobrancelha e encarou a plateia, com seus olhos escuros. ─ Essa sereia e o seu povo não querem ser encontrados. Insistir nisso é perda de tempo, e capturar uma de propósito é crime.

Alguém levantou a mão no meio do auditório.

─ Pode perguntar. ─ Jensen voltou a colocar sua mão no bolso.

─ Por que o senhor é o responsável por interromper essa busca criminosa, e não o próprio prefeito? ─ perguntou um jornalista.

Essa pergunta fez outras pessoas levantarem as mãos.

Jensen ficou em silêncio, em sua cabeça só veio a imagem de Lisa doente, depois ele se lembrou da sua forma natural. E mesmo sem querer, ele acabou imaginando ela em uma exposição, e todo o seu corpo se arrepiou.

─ Eu e o prefeito tivemos uma reunião no dia em que esse esclarecimento saiu. Devo ser claro e dizer que o nosso prefeito não sabia muito bem o que estava fazendo. Não tinha consciência da missão arriscada que estava enviando os pescadores da nossa cidade.

─ Então está dizendo que o prefeito foi equivocado ao oferecer uma recompensa pela captura de uma sereia? ─ outra pessoa perguntou.

─ Sereias e tritões não são os peixes que comemos todos os dias. São vidas inteligentes, racionais, capazes de sentir todas as emoções e sentimentos que nós, humanos, sentimos. Sem falar que eles podem e sabem se defender, então os pescadores estavam correndo riscos. Então eu devo dizer que sim, foi uma oferta equivocada.

O Corpo De Uma SereiaOnde histórias criam vida. Descubra agora