A queda de uma cachoeira

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A noite já havia chegado do lado de fora do quarto. Diferente das outras tardes, Lisa ficou em casa nesta. Gilbert havia lhe dado alguns papéis sobre o restaurante, e a moça contratada para a decoração havia lhe dado ainda mais papéis.

Céus! Ela simplesmente não sabia qual decoração escolher, as três eram ótimas. Ou será que sua cabeça estava apenas cansada após ler todos os documentos que Gilbert lhe entregou?

Lisa suspirou, tristonha. As coisas seriam mais fáceis se Emilly estivesse ali, talvez, pessoalmente, a morena já a teria convencido a abrir o restaurante ou a voltar para a casa do Sr. Hoyt. Mas Lisa simplesmente não conseguia desapegar, não quando tinha esperança de que as coisas voltariam ao normal em breve.

Três batidas na porta.

Lisa levantou a cabeça, sentindo seu coração bater tão rápido que parecia querer sair de seu peito. Jensen abriu a porta, apenas uma parte do seu corpo entrou no quarto, a outra ainda estava atrás da porta. Ele a olhava com atenção, parecia hesitante.

Lisa quase sentia o cheiro do seu perfume, teve vontade de sorrir, seu coração aflorando esperanças, regando o amor deles.

Ela percebeu que suas mãos já estavam suando, mas ela estava travada, encarando-o.

— Podemos conversar? — Sua voz saiu fria.

O vislumbre de um sorriso sumiu de seu rosto. Ele ainda era o mesmo de ontem e dos outros dias, e agora a conversa não poderia ser boa.

Ela respirou fundo.

— Claro, sente-se aqui. — Ela começou a organizar os documentos em cima da cama para lhe dar espaço.

— Te procurei na biblioteca primeiro. — Ele se aproximou com calma.

Seu coração quase se aqueceu; ele tinha consciência de que era lá que ela estava se escondendo. Isso devia ser bom, não?

— Eu tinha algumas coisas para organizar. — Ela evitou olhar para ele.

Lisa sentiu seu coração bater mais alto do que nunca. Depois de dias de gelo, depois de dias com ele a evitando, ele finalmente estava ali, sentado na sua frente, olhando-a diretamente. Ela quase podia relaxar e fingir que os últimos dias não existiram, mais um pouco e ela poderia imaginar que era só mais um dia na rotina deles...

— Precisamos conversar sobre os últimos dias. — Ele falou, sem emoção alguma.

Como ele conseguia?

Mas não importava. Lisa travou outra vez, exigindo que suas mãos continuassem trabalhando. Mas não adiantava.

Ela respirou fundo, desistindo de organizar os papéis, soltou-os e levantou a cabeça, tendo – ou pelo menos fingindo – a coragem necessária para ter aquela conversa.

— Finalmente. Pode continuar. — Ela fitou seu rosto.

Eles se olharam por um breve momento. Lisa não estava mais na defensiva, não estava mais com medo, embora ainda morresse de vontade de vê-lo sorrir e abraçá-la.

Ele coçou a garganta, desviando os olhos. Não parecia tão confiante agora.

— Eu conversei com alguém que entende sobre você e nosso tipo de relacionamento.

Tipo...

— Sempre notei como os outros homens olham para você. — Ele riu, sem vontade alguma. — Todos eles beijariam o chão para você passar... Todos eles fariam qualquer coisa por você... Assim como eu fiz e faço. — Ele fez uma pausa.

Os lábios de Lisa tremeram e ela virou o rosto, fechando os olhos com força, controlando os tremores que passavam por seu corpo. Ela sabia onde ele estava querendo chegar... Não era difícil deduzir...

O Corpo De Uma SereiaOnde histórias criam vida. Descubra agora