Prólogo

282 18 2
                                    

Dois dias atrás, Jensen Christopher havia tido a ideia de fugir para sua ilha particular, milhares de quilômetros de distância de seu país. Mas claro que isso tudo aconteceu há dois dias atrás. Uma tempestade não prevista chegou de repente, prendendo-o dentro de casa e fazendo tanto barulho que a ideia de relaxar parecia muito distante agora. Com certeza, o plano inicial era fugir de sua rotina, principalmente de sua família.

Não, não de seus irmãos. Fugir de sua mãe. Sua mãe narcisista que só andava de braços dados com a pequena cobrinha, que aos poucos estava se parecendo cada vez mais com a velha mulher. Até quando Cassandra aguentaria aquilo? Por Deus! Um casamento entre os dois nunca aconteceria, por que ela continuava fantasiando e caindo nas ideias da mãe dele?

Claro que sua ideia genial para sumir do campo de visão de ambas foi fugir como um rato, para sua ilha tropical e ensolarada.

Ensolarada? Parecia até piada. Jensen olhou com desgosto para a janela.

O dia passou com muita água caindo do céu, agora era pouco depois da meia-noite. A tempestade e os trovões haviam parado, mas a ventania ainda parecia querer arrancar os coqueiros pela raiz. O barulho pelo menos era mais confortável que os trovões e a chuva intensa, e pelo menos com isso o homem conseguia relaxar.

Ele respirou fundo, pouco antes do vento intenso conseguir desprender um coco de seu talo e o jogar contra uma das janelas da sala, que se estilhaçou em mil pedaços de vidro. O vento bruto conseguiu o que queria, agora ele dançava pela sala decorada com tons marrons e brancos, bagunçando o que encontrava. Jensen correu em direção à janela, tomando cuidado com os cacos de vidro espalhados pelo chão de madeira polida. Ele olhou em volta. O que poderia fazer para arrumar aquilo a tempo?

Mas foi do lado de fora que algo chamou sua atenção.

No cais que levava até a lancha, se ele forçasse um pouco sua visão entre os pequenos galhos de plantas ornamentais, conseguia enxergar algo que o fez prender a respiração.

Havia um corpo.

Ele parou o que estava fazendo e sequer pensando. Era um corpo feminino e estava completamente nu, a pele tão clara que a luz da lua reluzia. O nível do mar tinha subido até ali horas atrás, mas agora estava abaixo do cais. Algumas ondas batiam contra a madeira, molhando-a, mas a água rapidamente corria para o mar. O brilho da lua era o único ponto de luz que iluminava o lado de fora.

Ele não pensou duas vezes, abriu a porta e correu para o lado de fora no mesmo instante, preocupado com a mulher vulnerável no meio daquele tempo.

Seus pés corriam mais rápido do que sua mente conseguia processar. Ele estava quase a alcançando, ela poderia ter uma hipotermia, ele tinha que impedir uma tragédia.

Mas só a alguns passos de distância ele pensou na possibilidade da tragédia já ter acontecido.

Ele parou imediatamente.

Olhou em volta com cuidado, a ilha era pequena demais para mais uma casa escondida, e só se via o mar agitado e negro, nenhum barco ou algo semelhante, nenhuma luz no horizonte, apenas o mar escuro e com ondas violentas.

De onde ela veio?

Hesitante, ele voltou a andar. Com passos cuidadosos, olhou novamente para a mulher e se ajoelhou perto do corpo que estava de bruços, ele colocou a orelha em suas costas e com um pouco de concentração ouviu o seu coração, acelerado, vivo, batendo por cima daquele mar agitado e dos coqueiros balançando.

Foi o suficiente, com seus braços fortes, ele a virou, pegando-a no colo, e voltou para dentro de casa com pressa.

Ela respirava lentamente enquanto estava em seus braços. Na sala, Jensen deitou a garota no sofá e aumentou o fogo da lareira, também a cobriu com uma manta para aquecê-la e cobrir seu corpo, nesse último ato ele percebeu que seu corpo já estava seco. Como isso poderia ser possível? Apenas seus cabelos loiros estavam molhados, ele era longo e se enrolava como algas na água enquanto caía sobre seu ombro e se espalhava graciosamente pelo sofá.

O Corpo De Uma SereiaOnde histórias criam vida. Descubra agora