Ossos quebrando •

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Ainda é a Lisa... Ainda é ela. Ainda é. Ele tentou convencer a si mesmo antes de dar o primeiro passo para fora do cômodo.

O que ela pensaria se o visse simplesmente sair? Sem dúvidas, iria pensar que ele estava decepcionado ou chateado por ela não ter lhe dito. E ele não estava?...

Caralho. Sua cabeça fervia, prestes a explodir.

O moreno respirou fundo e abriu as mãos, tentando relaxar os músculos que ele percebeu ter tencionado.

Ele inspirou e se virou para ela.

Jensen foi para a frente da banheira e sentou no chão, se apoiando na parede.

As pernas dela se foram, no lugar havia uma calda com escamas e barbatanas (quase transparentes de tão finas e delicadas), em um tom de cinza azulado. As escamas brilhavam sobre a iluminação do banheiro.

Ela emergiu da água e se recostou na banheira.

Então ele notou seu pescoço, as linhas que antes ela disse ser nascimento, agora estavam abertas... Ele teria rido se não estivesse nervoso.

─ Eu sinto muito... Eu não queria que você descobrisse. ─ Ela disse envergonhada.

Jensen bufou, desacreditado.

─ Então planejava continuar escondendo de mim? Por quê? Não acha que que eu devia saber? ─ Ele tentou, tentou de verdade não soar ignorante.

─ Eu tinha medo. ─ A voz dela quase não saiu.

─ Medo do que?

─ De você não me querer mais! Eu não sou humana, Jes... E você pensava e esperava que eu fosse. Tive medo de você não querer mais nada comigo, e me tratar como um mero animal marinho.

O homem levantou as sobrancelhas.

Um animal marinho? Como ela poderia pensar tão pouco de sí mesma?

Desde que conversou com o rapaz que lhe trouxe água, ele vinha tentando rejeitar essa possibilidade, de alguma forma teve a chance de não ser pego de surpresa. Mas como reagiria se não tivesse pensado nessa possibilidade, mesmo que por um segundo?

─ O que estava acontecendo com você? ─ Ele perguntou.

Ela se encolheu. Fugindo do olhar acusatório dele.

─ Alguma coisa fora do meu normal vem acontecendo nos últimos dias... ─ Ela explicou olhando para a água. ─ Geralmente eu consigo ficar até 6 dias fora da água e tudo o que sinto é um cansaço dentro do normal. Mas dessa vez as coisas ficaram piores, o processo de desidratação e abstinência evoluiu muito rápido.

─ E o que teria acontecido com você?

Lisa mordeu o lábio.

─ Acho que... Eu teria morrido.

Jensen teve que fechar os olhos e respirar fundo por alguns segundos.

─ Estava disposta a morrer para não me contar? ─ Ele acusou com os dentes cerrados.

─ Não! Não foi bem assim... Eu vim para cá, eu tentei ir ontem a noite, depois de madrugada...

Ah, então era isso. Por isso ela estava insistindo tanto para ir até a praia.

─ Por que não foi antes de ficar doente?

Ela suspirou, parecia cansada ainda.

─ Jensen... Eu prometo contar tudo a você, mas agora... não é um bom momento, é uma história longa.

O Corpo De Uma SereiaOnde histórias criam vida. Descubra agora