Aendy

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Sr. Manson suspirou profundamente e então começou a sua história.

─ 22 anos atrás, eu morava sozinho em uma cabana em frente à praia. Durante uma tarde, meu cachorro latia tanto que estava começando a doer meus ouvidos, então eu saí... ─ Ele riu sozinho enquanto se perdia em memórias. ─ Saí para repreendê-lo e colocá-lo para dentro. Mas o que eu vi... me deixou chocado. Uma mulher estava... não, apesar de ter partes de um corpo feminino e uns cabelos longos que cobriam seu rosto, ela tinha uma cauda... E essa cauda estava dentro da água, enquanto seu tronco estava na areia. Eu corri para vê-la, ela estava sangrando... Tinha um machucado feio na cintura. Mas eu tive dúvidas na hora: eu devia tirá-la da água ou levá-la para a água? ─ Ele riu outra vez. ─ Por fim, decidi puxá-la para a areia, e foi então que aconteceu. Enquanto eu ainda segurava seus braços, a puxando para longe da água, sua cauda foi embora, e no lugar havia pernas... pernas que estavam machucadas e cheias de pequenos cortes. A mulher misteriosa passou dois dias desacordada, e quando acordou, descobri que ela não sabia falar meu idioma. Foram semanas cuidando de suas feridas e ensinando-lhe, pouco a pouco, o básico para que pudesse se comunicar comigo. Ela não queria voltar para o mar de jeito nenhum, estava com medo e começava a chorar só de chegar perto.

Jensen franziu as sobrancelhas, fascinado com a história, mas sentindo a curiosidade o consumir por dentro.

─ Perdoe a intromissão. ─ Ele levantou uma mão suavemente e a pousou na mesa outra vez. ─ Mas, se ela não queria voltar para a água, como lidou com a abstinência pelo mar?

Sr. Manson assentiu, refletindo sobre esse detalhe.

─ Ela já estava fraca, mal conseguia ficar de pé quando tive a ideia de fazer um buraco na areia, como uma banheira, para que ela ficasse dentro. E isso funcionava. ─ Ele deu de ombros. ─ Mas sempre que ela se transformava, acabava tendo pesadelos à noite. E levou um tempo até ela aprender a conversar comigo para me contar que foi atacada por um tubarão, e se lembrava do ataque sempre que dormia, ou sempre que estava na água... Eu cuidei dela o máximo que podia, fazia tudo o que dava. Dias viraram semanas, semanas viraram meses, e quando percebemos, tínhamos sentimentos românticos um pelo outro... ─ Ele sorriu mais uma vez. ─ Nós nos tornamos um casal. Aendy adorava me acompanhar até a cidade, e eu adorava como tudo parecia encantador para ela. Fizemos uma pequena cerimônia de casamento na cabana... Só nós dois e o Teddy, meu cachorro. Passávamos a noite olhando as estrelas, com ela me contando sobre a beleza de seu mundo, sobre o seu povo tão inteligente e independente. Ela me falava sobre grandes construções no fundo do oceano e sobre truques para usar águas-vivas como fonte de luz. Durante o dia, ela cuidava da casa e do Teddy enquanto eu trabalhava. Nós éramos felizes... Fizemos planos de adotar uma criança. Mas era só um plano feliz. Aendy sempre me disse que teria que voltar um dia, e que não saberíamos quando seria seu último dia comigo...

O homem contava sua história com melancolia, a tristeza era evidente em sua voz, sem disfarce algum. Era nítido como ele nunca mais foi o mesmo depois que ela partiu. A vida que ele teve com ela, só eles dois em uma cabana perto do mar, parecia um paraíso, sem interferência de outras pessoas.

─ Voltar para o mar? Por quê? ─ perguntou Jensen.

O Sr. Manson suspirou.

─ Durante uma noite, quando a lua cheia brilhava bem no topo do céu, acordamos com uma cantoria. Corremos até a janela, só para dar de cara com dezenas de cabeças para fora da água, esperando por ela... ─ Ele fungou, parecendo tentar controlar a emoção. ─ Eles vieram buscá-la. Aendy estava prometida para o próximo ancião desde que nasceu, era de uma família importante. O antigo líder havia falecido, e ela tinha que assumir o seu lugar no mar. Aendy era madura e determinada demais para deixar suas responsabilidades para depois... Ela se despediu de mim... ─ Ele fungou outra vez, jogando a cabeça para cima. ─ Ela me beijou, dizendo adeus, e então saiu... Foi ao encontro de seu povo que tinha vindo buscá-la.

O Corpo De Uma SereiaOnde histórias criam vida. Descubra agora