Bem vindo ao bote

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Mais uma vez, ele estava em seu escritório, no prédio de sua empresa. Mas nada fazia sentido agora. Contra sua vontade, ele havia retornado para sua vida mesquinha e sem propósito de antes. Não era aquilo que queria; nada daquilo era o que ele desejava. Como poderia voltar a andar em terra, após conhecer a maciez e beleza das nuvens?

Lisa foi embora, no mesmo dia em que discutiram pela última vez... Era tarde para ele se desculpar, pois não previu que ela teria um limite. Que ela não o esperaria para sempre. Que inferno. Agora tinha que conviver com a culpa, uma culpa que parecia disposta a rasgá-lo ao meio. Mas isso deveria ser bom, se aquela Teresa Clare estivesse certa, se seu pai estivesse certo... Então Lisa fez bem em ir embora. Então eles fizeram bem em dar um fim nisso. Um humano nunca deveria se apaixonar por uma sereia. Cedo ou tarde, ela voltaria para a água.

Três batidas na porta.

Lindsey entrou, hesitante e com medo, como se estivesse tentando se aproximar de um animal raivoso. Era isso que ele estava sendo nos últimos dias, estava pior do que sempre fora.

— S-senhor. Me desculpe interrompê-lo, mas o Henry Walker está lá embaixo insistindo em ver o senhor. Está gritando que, se o senhor não o receber, ele vai co-começar a falar. — Lindsey gaguejava enquanto olhava para o chão.

Nenhum de seus funcionários tinha coragem de olhar em seus olhos nos últimos dias.

Henry Walker... O administrador que foi demitido não fazia muitos dias. Jensen Christopher não suportava olhar para ele, sem imaginar aquele homem tocando em Lisa. E agora que a havia perdido, não hesitou em colocá-lo na rua, e faria isso outra vez, se fosse preciso.

Mas o que Henry poderia querer agora? O que ele poderia dizer ao abrir aquela boca nojenta? Inferno. Mesmo após ser demitido, o maldito continuava a irritá-lo.

— Deixe-o subir.

— S-sim, senhor.

ㅤㅤ

Jensen girou na cadeira, agora observando o homem que parecia enfurecido. O hematoma em sua mandíbula ainda não havia desaparecido. Um tom esverdeado se fundia com a pele clara do administrador.

Jensen levantou uma sobrancelha, esperando o homem falar.

— O que você fez com ela? — perguntou Henry entre os dentes.

Jensen franziu o cenho, confuso, mas logo lhe ficou claro que Henry poderia estar falando de Lisa.

— Está falando de Lisa Schmid? — Ele perguntou secamente.

Henry Walker riu.

— Agora a chama até pelo sobrenome? Não importa. — Ele se aproximou da mesa. — O que você fez com ela? Ela não está em casa, não atende o telefone, e seu restaurante não abre há dias! Nem aos seus funcionários ela deixou recado. Lisa simplesmente sumiu.

Jensen fechou as mãos ao sentir a raiva crescer dentro dele. Mesmo depois de apanhar, aquele homem continuava atrás dela? Estava rondando Lisa? O que ele queria ao procurá-la?

O moreno respirou fundo, tentando controlar seus próprios pensamentos e os punhos apertados.

— Lisa foi embora. Como você mesmo disse, nós não estávamos bem. Conversamos, e ela decidiu voltar para casa.

O outro homem o olhava com raiva, sem crer em suas palavras.

— E ela não levou o celular? Não atende por quê? Por que não responde minhas mensagens?

Jensen ficou de pé, com o peito subindo e descendo, as mãos fechadas ao lado do corpo.

— Que inferno. Eu não tenho problema em sujar minhas mãos com você outra vez, Walker. O que você tanto quer com ela? Deixe Lisa em paz. — Ele disse entre os dentes, apoiando-se na mesa.

O Corpo De Uma SereiaOnde histórias criam vida. Descubra agora