Mesmo que por ela

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Jensen Christopher não conseguiu trabalhar pelo resto do dia. Sua sala estava revirada, cheia de cacos e papéis espalhados. A mesa estava completamente vazia, o que antes estava ali agora estava jogado no chão.

Lindsey havia entrado na sala correndo, mas saiu igualmente rápido quando ele gritou com ela, como um animal descontrolado.

Era a segunda vez que ele quebrava as coisas após a visita do seu pai, mas dessa vez... Não era culpa só do velho.

Sentado em sua cadeira, segurando a garrafa de uísque quase vazia, na sala que agora estava escura, ele tinha consciência de que o prédio inteiro estava vazio, mas ele não podia ir para casa também. Como poderia?

Ele fechou os olhos com força, sentindo a dor latejante que o incomodava, sua cabeça doía.

Seu pai estava certo, e ele não falou nada que Jensen já não soubesse ou desconfiasse. Os sentimentos de Lisa por ele não eram reais, então, como os dele poderiam ser? Toda aquela história... Ele deveria ter dado ouvidos a ela, deveria ter conversado mais profundamente. Agora... O que ele devia fazer?

A verdade era que ele realmente não conseguia ser racional; seu peito queimava sempre que estavam juntos, sempre que ela o tocava, sempre que ele a tocava. A química... O tesão, isso era bom demais. Como ele poderia ter sido racional? Como poderia voltar para casa agora e ver o rosto da mulher que nem sabia o que estava acontecendo?

Ele nunca teria coragem de publicar aquela matéria, nunca arriscaria seu império.

Mesmo que fosse por ela...

Como ele poderia dizer a ela que estava enganado, que não a amava como pensava, depois de lhe convencer tantas vezes de que sim?

Maldita sereia... Por que ela não poderia ser uma humana normal? Eles ainda teriam química? Ainda iriam se amar? Ele ainda a desejaria da mesma forma?

Ele nunca teria as respostas para essas perguntas.

Nada daquilo foi real, o amor não era real, e ele não iria ser covarde e fugir disso. Ele precisava encará-la e achar uma forma de resistir aos seus olhos grandes, seus cabelos ondulados e seu jeito especial. Inferno. Como ele poderia magoá-la dessa forma?

Ele fechou os olhos com força, tentando evitar as lembranças que surgiram.

■□

O homem alto hesitou na porta de casa, mistos de sentimentos corriam por seu corpo, mas ao mesmo tempo, ele não estava sóbrio havia algumas horas.

Ele abriu a porta, cambaleando para dentro, indo em direção ao sofá.

Não levou muito tempo para que uma Lisa agitada aparecesse na sala, correndo em sua direção com um lindo vestido vermelho e cabelos soltos.

─ Jes! Eu estava preocupada. Você está bem? Não consegui te ligar. ─ A mão fina parou no rosto dele.

Ele mexeu a cabeça, afastando as mãos dela. Não queria seu toque, não queria olhá-la; ainda estava se decidindo, ainda estava confuso com seus sentimentos. A imagem daquela matéria rodando o torturava.

─ Meu celular descarregou, não vi suas chamadas. ─ Ele começou a tirar o blazer.

Lisa abaixou a mão, seus olhos estreitos e acusatórios o censuravam.

─ Você bebeu? ─ Ela perguntou, confusa.

Ele se encostou no apoio do sofá.

─ Sim, bebi no escritório com ─ Ele fez uma pausa, pensando, enquanto tentava tirar a gravata. ─ com um dos sócios. ─ Droga, toda a claridade daquela casa incomodava seus olhos.

Por que estava tão difícil desfazer a porcaria do nó? Independentemente do quanto tentasse, não parecia mudar nada. Ou ele só estava nervoso por ela estar tão perto, olhando para ele? Diabos. Ele só queria estar beijando ela.

Lisa tentou ajudá-lo. Ela parou em sua frente, suas mãos femininas tocaram as dele enquanto ela afrouxava o nó da gravata.

Ele empurrou sua mão.

Ela empurrou a dele.

Ele a empurrou novamente e eles começaram uma pequena briga com as mãos.

Jensen respirou fundo, impaciente, levantando-se enquanto segurava os pulsos dela com mais força do que o necessário.

Pela primeira vez naquela noite, ele a olhou nos olhos. Lisa estava assustada, quase ofegante enquanto o fitava sem entender.

Ele fechou os olhos com força.

─ Lisa, eu só preciso de um momento, entendeu? Eu só preciso de um segundo. ─ Ele tentou controlar o tom de voz para não ser grosseiro com ela.

Ele a soltou, soltou suas mãos que caíram ao lado do corpo. Ela estava confusa e preocupada.

Mas ele não estava disposto a lidar com isso agora, precisava de tempo.

Ele se afastou e saiu da sala, consciente de que a mulher continuava parada no mesmo lugar, olhando para suas costas.

O Corpo De Uma SereiaOnde histórias criam vida. Descubra agora