O Corpo De Uma Sereia

O próximo semestre vai começar.

Lisa entrou na casa simples, notando imediatamente que tudo estava quieto demais. Geralmente, havia sempre a TV ligada ou o som tocando músicas em alto volume.

─ Emilly? ─ Lisa chamou, olhando na cozinha, e foi em direção ao quarto.

Ao abrir a porta do quarto e entrar, deu de cara com Emilly ainda deitada na cama, enrolada dos pés ao pescoço, apenas com a cabeça para fora da coberta, e ela não estava nada feliz com a vida.

─ Oi, não está um pouco tarde para estar na cama? Não está se sentindo bem? ─ Lisa disse baixinho.

Ela se aproximou o suficiente para checar a temperatura da amiga com a mão.

─ Meu corpo está bom. ─ disse Emilly. ─ É meu coração que está doente. ─ Ela fez cara de choro e escondeu o rosto na coberta.

Lisa afastou a coberta e sentou na beirada da cama.

─ O que foi? Gilbert não reagiu conforme você esperava? ─ Ela deu tapinhas nas costas da morena.

Emilly tirou o rosto debaixo da coberta. Não estava chorando, mas estava tão triste que seus olhos não tinham nenhum vestígio de esperança.

─ Amiga, meu romance acabou antes mesmo de começar. ─ Ela choramingou, fazendo cara de choro outra vez.

Lisa suspirou, sentando perto da cabeceira, e gentilmente puxou a cabeça de Emilly para o seu colo, acariciando os cabelos cacheados.

─ Quer me contar como foi? ─ ela perguntou para incentivar a amiga a desabafar.

Emilly fungou.

─ Tivemos uma noite incrível, foi tudo tão bom, e ele é tão maravilhoso, sabe? Quando estávamos voltando, tentei tocar no assunto. Eu contei que ia morar fora e que ia viajar semana que vem...

Lisa parou por um segundo, se colocando no lugar de Gilbert. Descobrir isso logo em cima da hora deve ter causado um choque nele.

─ E o que ele disse? ─ Ela perguntou curiosa.

─ No começo, ele ficou confuso, parou o carro e começamos a conversar. Ele não gostou nada de eu só ter contado agora, mas o que eu poderia fazer? Eu estava com medo. Contar pra ele que vou embora semana que vem tornaria as coisas reais. Minha ficha iria cair, de que vou perdê-lo antes mesmo de tê-lo.

Lisa começou a massagear entre os cabelos dela.

— Vocês brigaram?

─ Não. ─ Emilly sacudiu a cabeça. ─ Quem dera tivéssemos brigado. Ele apenas se isolou, se fechou completamente. Ele estava do meu lado, mas parecia um desconhecido. Disse que nunca me impediria de seguir meus sonhos, mas que não poderíamos continuar com uma distância tão grande entre nós, e que gostaria que eu tivesse contado antes... amiga, eu não sei o que fazer... ─ Emilly suspirou.

Lisa prendeu os lábios, gostaria de ter o que dizer à amiga, mas não fazia a menor ideia de como poderia lhe confortar em um momento desse.

─ Amiga, eu gostaria de lhe dizer que ele precisa de tempo, mas tempo é o que vocês não têm... Eu sinto muito por isso, sei o quanto gosta dele. ─ a loira completou gentilmente.

Os ombros de Emilly tremeram, e Lisa se deu conta de que ela poderia estar chorando agora. Seu coração afundou, sem saber o que poderia fazer, então apenas continuou fazendo carinho na amiga.

Quando Emilly voltou a falar, sua voz estava embaçada por causa das lágrimas.

─ Eu sempre sonhei com isso, era o meu sonho, mas agora eu estou com medo. ─ Ela fez uma pausa. ─ Estou deixando tudo o que conheço para trás, todos os meus amigos, 23 anos da minha vida. Estou levando meu pai para longe de tudo o que ele conhece também, ele nem sabe falar o idioma deles. Eu sou uma pessoa tão ruim, estou deixando tudo para trás sem hesitar, meus amigos mereciam uma amiga melhor. Gilbert merece uma namorada melhor. Eu estou com tanto medo, e se eu não me adaptar? E se meu pai não gostar? E se não for nada como imaginei? ─ Emilly parou de falar quando as lágrimas tomaram conta.