Ele foi tão cego... •

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Era como perder a capacidade de puxar o ar, lentamente. Lisa sentia dificuldade em respirar, qualquer movimento lhe causava cansaço e seu corpo parecia estar ressecando, quando foi a última vez que ela bebeu água?... Ah, Jensen havia insistido para que ela bebesse não havia muito tempo, ela parecia estar definhando de sede, mas ela poderia beber toda a água portável do mundo, isso não a ajudaria.

Enquanto estava deitada na cama, ela esperava ele voltar. Lisa tinha necessidade em vê-lo, sentia que estava falecendo aos poucos. Ela sabia que era essa a opção que lhe restara.

No fundo de sua consciência, há meses em que ela sabia que isso aconteceria em algum momento. Ela não podia voltar para a água livremente, temia as armadilhas dos pescadores, e mais fundo, temia os seus iguais.

Por um momento ela pensou em sua mãe, em seu pai e na sua irmã, eles ainda estavam decepcionados com ela?... Também esperavam por sua morte? Era uma forma cruel de morrer. Enquanto seu corpo ressecava lentamente, ela sentia seus órgãos perdendo pouco a pouco de sua capacidade, ela já não aguentava ficar em pé sozinha.

Se tivesse mais tempo, poderia seguir com o plano de ontem a noite, mas a abstinência por água se desenvolveu rapidamente, dois dias e ela já estava definhando, como uma lesma após receber sal.

Estava quase apagando novamente, quando ouviu passos e em seguida, Jensen abrir a porta.

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O homem parou na porta, vendo a cena que lhe causava angústia e medo a dois dias.

Que diabos estava acontecendo com ela?

Lisa estava muito doente, ela parecia extremamente frágil e sua pele estava seca. Ele nunca viu nada igual, isso quase lhe causou pânico, mas não era hora para isso.

Ele foi até a cama, enquanto capturava o olhar famíliar de sua mulher que o assistia se aproximar.

─ Não posso continuar te vendo assim. Assistindo você... ─ Ele fez uma pausa, não iria dizer aquela palavra.

Ele se sentou na beirada da cama, ao lado dela.

Com todo o cuidado do mundo ele pegou sua mão. Não conseguiu dormir noite passada. Vê-lá em seus braços, tão mole e frágil, lhe causou um sentimento que ele nunca sentiu antes. Ele nunca teve tanto medo quanto o da noite passada.

As mãos dela estavam frias e ele sentiu falta da pele macia, agora era tão delicada que parecia que ia rasgar, era angustiante não ter respostas.

─ Lisa, você prometeu que eu poderia chamar o médico hoje.

Ele não queria lhe dar sermão, muito menos brigar com ela nessas condições, mas não sabia mais o que fazer.

─ Não ia adiantar...

A voz dela, geralmente tão aveludada e carinhosa, tão doce, agora era só um sopro baixinho.

─ Não... Eu não aceito essa resposta...

Claro que ele não poderia aceitar, estar com ela, acordar ao seu lado, trazia um pouco de sentido a vida dele. Ele não permitiria que ela continuasse assim. Ele sabia com toda certeza, que isso tinha a ver com os segredos que ela não contou, as partes que ela deixa no escuro, ele desejou ler a sua mente, e saber todos os seus segredos, só assim poderia ajudá-la.

Seus olhos, antes tão alegres, agora estavam ficando sem vida, pouco a pouco. Ela estava pálida, sua pele estava seca, nada disso fazia sentido.

Ele estava angustiado.

Não continuaria dando ouvidos a ela.

─ Vamos, vou leva-lá ao hospital.

Ignorando completamente os protestos dela, ele a pegou no colo. Lisa murmurava, dizendo que não ia adiantar, mas ele não lhe deu ouvidos, não poderia continuar apenas a assistindo.

O Corpo De Uma SereiaOnde histórias criam vida. Descubra agora