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Pov Sana



O barulho do silêncio é uma sinfonia que até então eu achava normal, inofensiva, calma. Engano meu. O silêncio parecia mais alto que a televisão, que nossas respirações e até que o choro de alguns. Era uma poluição sonora sem fim na minha casa. Tudo estava bagunçado, de cabeça para baixo, interna e externamente.

Mina estava séria, não chorava, nem esboçava tristeza. Se me permitissem dar um palpite sobre seus sentimentos, eu diria decepção, desespero e medo. O seu olhar focado no homem de terno que não parava de falar na tela, mostrava a curiosidade sobre o futuro pela incerteza do mesmo.

O olhar da minha mãe era perdido, mas ao mesmo tempo vidrado nas notícias. O tom castanho de sua íris se perdia no branco que agora era vermelho. Seu rosto inchado indicava o acúmulo de sentimentos ruins e a explosão pelo finalmente, ter finalmente acontecido.

— Acaba de ser preso o empresário Ichiro Minatozaki, dono das empresas de tecelagem e tintas, acusado de homicídio culposo, fraude e corrupção. – Aquelas palavras, que já tinha ouvido outras vezes, rasgavam cada vez mais meu interior e fazia parecer pior do que eu imaginava. – O homem de cinquenta e quatro anos não tentou fugir e não reagiu à prisão. – Já era outro canal. As falas não mudavam em nenhuma emissora. – O empresário agora está sob regime fechado até o dia do julgamento. 

Diferente da minha mãe, eu não chorava e nem tinha vontade. Ao contrário de Mina, meu olhar era sem foco, eu não conseguia encarar a TV por mais de dez segundos.

Fotos do meu pai estavam estampadas em todos os canais, algumas de sua vida ainda boa, outras dele algemado. Não consigo colocar em palavras os meus sentimentos nesse momento, mas uma sensação consigo descrever: inquietude.

Meus olhos não paravam quietos. Era sempre da televisão para minha mãe, da minha mãe para minha irmã, da minha irmã para Momo, de Momo para Nayeon, de Nayeon para Tzuyu e o ciclo de repetia infinitamente.

Minhas pernas balançavam involuntariamente e tão nervosamente que já podia notar ambas dormentes. Sentia meu corpo gelado, mas suado ao mesmo tempo. Uma dor de cabeça muito forte me atingiu em cheio, o que piorou meu estado ainda mais. Além de sentir meu coração acelerar cada vez que olhava para alguém.

— Sana, você está bem? – Momo perguntou, parando ao meu lado. Eu estava num banquinho, na lateral da televisão, na sala de estar.

— Eu não sei nem dizer como estou me sentindo, mas definitivamente não é bom. – Assim que fechei a boca, senti seu braço envolver meu corpo num meio abraço simples.

— O que quer eu faça?

— Não tem nada que você possa fazer... – Encostei a cabeça no braço da minha amiga. Fiquei completamente imersa em seu carinho, sentindo uma espécie de acolhimento em um momento tão conturbado.

— Acho melhor vocês irem... – Mina disse se aproximando de mim, mas só me dei conta que Tzuyu e Nayeon estavam próximas também quando levantei a cabeça. – A mamãe precisa conversar com a gente e ficar um pouco quieta também, vocês entendem, né?

— Claro, Minari. – Nayeon respondeu. – O que precisar pode contar com a gente, ok?

— Eu agradeço. – Minha irmã respondeu.

— Fica bem, Sana. – Momo soltou-se de mim, mas antes deu um beijo no topo da minha cabeça como despedida. – Você também, Mina.

— Não tenham vergonha de pedir ajuda, ouviram bem? – Tzuyu começou. – Ninguém aqui tem preguiça de vir correndo para o que precisarem. Qualquer coisa é só dar um berro.

Velha Roupa Colorida | SaiDaOnde histórias criam vida. Descubra agora