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Pov Dahyun



— Desculpe, senhora Myoui, mas eu não aguento mais esperar. – Quebrei o silêncio que havia se instaurado naquela lanchonete de hospital. – Pode me dizer como tem a solução para o problema do meu pai agora?

— Ali! – Não me respondeu, apenas apontou com o dedo para sua frente. – Sua mãe já está chegando, só mais alguns segundos. – Pediu e eu acatei.

— Calma, ok? – Sana cochichou ao meu lado. – Ela está mudada, sei que vem coisa boa por aí. – Apenas assenti com a cabeça sem lhe responder nada.

— Olá. – Minha mãe chegou perto de nós e puxou uma cadeira para sentar. – Desculpem a demora.

— Ok, minha mãe já chegou. – Falei apressada. – A senhora pode contar agora?

— Claro. – Puxou fundo o ar e se endireitou na cadeira, alternando o olhar de mim para minha mãe. – Como disse, acredito ter a solução para o transplante do senhor Kim. – Nós continuávamos vidradas na mulher, sem mover um único musculo, mas indicando que queríamos que ela continuasse. – Eu posso doar parte do meu fígado sem problemas.

Ouvir aquilo foi surreal. Eu não disse uma única palavra, não me mexi e nem expressei reação. Era mentira, algum tipo de piada, só podia ser. Receber ajuda justamente dessa família é a coisa mais irônica do mundo e é por isso que me recuso a acreditar.

— Como? – Minha mãe disse milésimos depois da fala da japonesa. – Isso é algum tipo de piada? – Ela pensava igual a mim.

— Claro que não! – Respondeu a mãe de Sana. – Senhora Kim, nós conversamos mais cedo, demonstrei interesse no quadro do seu marido, achei que já esperasse algo do tipo.

— Vai me desculpar, mas o que menos espero de sua família é ajuda... – Soltou sem hesitar. – Não me leve a mal, mas muita coisa aconteceu entre nós e é muito estranho ouvir algo assim de você.

— Eu entendo. – Esticou as mãos sobre a mesa para segurar as mãos da minha mãe. – Mas falo sério e de coração. É o mínimo que posso fazer para me redimir.

— A senhora não tem culpa do que seu marido fez. – Falei. – Agora eu sei que não... Depois de conhecer Sana e Mina, ver as coisas de perto e acompanhar o julgamento, eu sei que não tem culpa sobre o que aconteceu com meu pai.

— Eu agradeço, mas ainda sinto que devo ajudar. – Esticou a mão esquerda, ainda sobre a mesa, para mim, segurando minha mão ao mesmo tempo que segurava a da minha mãe. – Costumo doar sangue regularmente, já estou habituada com coisas assim e meu tipo sanguíneo é doador universal. Eu já me informei e posso, sim, doar.

— Eu... Eu não sei nem o que dizer. – Minha mãe disse atônita.

— É verdade isso? – Virei para Sana, questionando a fala de sua mãe.

— Sim, ela sempre gostou disso. Seu sonho era ser médica. Agora adivinha o motivo de meu pai ter fissurado na ideia de medicina ou administração... – Soltou uma risadinha. – Dahyun, eu não sabia de nada, mas eu sei que ela não está brincando. Ela pode e quer doar. – Virou para minha mãe. – Aceitem.

— Nós aceitamos. – Falei e minha mãe me olhou incrédula. Eu sabia o que aquele olhar queria dizer. Ela não tinha respondido ainda por receio da minha reação, mas iria aceitar. Eu só adiantei a frase. – Muito obrigada, senhora Myoui.

— Não precisa agradecer.

— Obrigada. – Minha mãe disse. – De verdade. Seremos eternamente gratos. Conte com a nossa família para tudo.

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