CISNE NEGRO

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Swan Lake, Op. 20, Act. II: No. 10
Tchaikovsky

BAKUGOU

Quando eu era criança, aquela velha maluca (vulgo minha mãe), me arrastou para uma apresentação de balé (contra à minha vontade).

O Lago dos Cisnes, pra ser mais específico.

Me lembro de ter achado a história besta e dramática demais, mas quando as bailarinas que representavam os cisnes apareciam, aquilo sim era impressionante. Os movimentos, cada passo, cada salto, tudo nelas era deslumbrante porque eram perfeitas. 

Não me lembro quando, mas houve um momento que eu passei a achar que ela era como o cisne branco daquele balé.

Delicada, melancólica, inocente.

Mas ela não era.

Akira era como o cisne negro.

Agressiva, intensa, traidora.

Ela exalava uma explosão de poder em cada movimento, mas havia um controle em absolutamente tudo. 

Perfeita.

Perfeita em cada toque e palavras suaves que na verdade eram só meras mentiras que me contou.

Perfeita em cada momento que me levou a acreditar que ela era como o cisne branco daquele balé.


Quando ela resolveu cortar o cabelo logo após o sequestro, eu soube que alguma coisa estava errada, mas parecia um assunto delicado demais. Apesar de todos da turma a encherem de elogios, sabia que o sorriso que ela dava em troca era falso.

Não consegui me segurar num dia em específico. 

Ela havia pedido pra treinar comigo por causa da barreira dela que continuava falhando, então não protestei. Enquanto andávamos lado a lado pelo ginásio, ela puxou o cabelo para trazê-lo para um dos ombros, mas sem o antigo comprimento isso não era possível, percebendo isso, ela olhou tristemente para o cabelo girando as pontas brancas entre os dedos.

__ O que foi isso? Com o cabelo.

__ Huh? Não… não é nada.

__ Diga de uma vez.

Ainda sem me olhar, ela começou a arranhar a cutícula da unha, um hábito de merda que ela havia adquirido.

__ Aquele Nomu usou meu cabelo pra me imobilizar. Não queria que isso acontecesse outra vez, então achei melhor cortar.

“Cortar algo que ela passou a considerar como fraqueza”, pensei comigo mesmo.

__ Se arrependeu disso?

__ Não, não é isso. Eu só me sinto estranha sobre isso às vezes. Como alguém que também já foi... sequestrado, você já pensou que... esquece, não é importante.

__ Fala logo.

__ Quando isso passa? - ela sussurrou com a cabeça baixa - Eu me esforcei a minha vida inteira pra ficar mais forte, por que eu me sinto tão impotente assim? A minha barreira não devia quebrar tão fácil assim…

__ Ei - disse estendendo minha mão e levantando seu rosto pra mim, só para encontrá-la com os olhos lacrimejando - Eu já disse que você é ridiculamente forte, mas se está se sentindo tão fraca só por um bicho grande, então treine mais pesado pra destruir qualquer um na próxima vez.

Para a minha surpresa, ela avançou passando os braços ao meu redor, as mãos segurando minha camisa de treino, me puxando para perto dela e enquanto aconchegava o rosto na curva do meu pescoço, não que eu fosse reclamar, e depois de um momento, passei os braços ao redor dela. Eu odiava vê-la se sentindo fraca, tudo por causa daqueles merdinhas da Liga, então jurei pra mim mesmo que ia acabar com o próximo que tentasse machucá-la.

𝐓𝐇𝐄 𝐒𝐓𝐀𝐑𝐒 𝐀𝐍𝐃 𝐌𝐄 - 𝐋𝐢𝐯𝐫𝐨 𝐈. 𝓚𝓪𝓽𝓼𝓾𝓴𝓲 𝓑𝓪𝓴𝓾𝓰𝓸𝓾 Onde histórias criam vida. Descubra agora