RECLUSO

Capítulo 11

Domingos Monteiro

—— Odeio quando chove e tenho que andar de carro —— Digo olhando para a janela e a água escorrendo pelo vidro fumado.

—— Somos dois —— James concordou comigo fazendo a minha irmã revirar os olhos.

—— Espero que a sua grise de asma não comece de novo por causa deste frio —— Suspiro ao lembrar disso e Val apenas assentiu.

—— Você é asmática? —— Aaron perguntou um pouco ansioso, por isso odeio falar sobre isso para as pessoas.

—— É leve mas sim eu tenho asma.  Surpreso porque prático esporte? —— Os seus olhos mostravam admiração.

—— A minha mulher é incrível —— James soltou abraçando a minha irmã que deu-lhe um beijo.

—— Não façam isso na frente de adultos, é indecente! —— Bato no ombro da minha irmã que morreu a gargalhar.

—— Estamos em pleno 2023 do séc. XXI e você ainda segue essas regras —— Disse rodeando a cintura de James, este sorria bobo ao mínimo toque da minha irmã.

—— Pode ser algo normal para a sua geração mas para a minha é indecência e não faça nada impróprio na frente dos nossos pais —— Digo cruzando os meus braços e vi o idiota do Aaron segurando uma risada ao notar a vergonha na minha cara, é claro que vê-los se beijando me fez lembrar do episódio que tive com o Aaron e sempre quero me enfiar num buraco quando imagino a sua boca na minha… Prefiro nem falar.

—— Eu prometo. Não quis perguntar isso no começo mas onde os seus amigos vão ficar? Será muito suspeito se um agente da SERNIC for ficar na casa dos nossos pais —— Já havia me esquecido do Ramos que nos seguia no seu Prada.

—— Eles alugaram uma casa perto da residência dos Monteiro por isso não se preocupe e ele é discreto por isso ninguém vai suspeitar —— Aaron respondeu.

Isso tudo está sendo muito difícil de digerir, como eu vou dizer a eles que estão tentando me matar e eles são possíveis alvos para me atingir?

A Val, o James e o Aaron já foram baleados por minha culpa e agora tem mais duas pessoas envolvidas além dos meus pais, será que vale a pena perder tudo por esta causa? Estava tão aéreo que não me apercebi que falavam comigo mas a mão no meu queixo me despertou.

—— Já te pedi para não te magoares, Domingos —— Disse Aaron duro quando viu o pouco sangue saindo dos meus lábios.

—— Não consigo evitar —— Falo olhando para frente e Aaron continuou a dirigir.

—— É ali! —— Aponto para uma casa cercada por plantas, o meu pai adorava plantas.

Assim que saímos do carro, vi o gigante do meu pai vindo até mim com um sorriso.

—— Pai, vamos entrar ou ficaremos molhados —— Digo  batendo no seu ombro.

—— Claro, filhote! —— Odeio quando ele me chama assim. Aaron e James continuaram calados mesmo depois de ter entrado na casa connosco e o olhar do meu pai não estava ajudando.

—— Venham sentar-se. Preparei o café da manhã —— Minha mãe conseguiu diminuir a tensão no ar.

Aaron caminhou até mim e se inclinou para o meu ouvido mas o meu pai foi mais rápido.