Capítulo 37

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Domingos Monteiro




Faz muito tempo que não tenho uma recaída que havia me esquecido dessa fraqueza e dor de cabeça horrível, mas agora tenho que me cuidar, não quero afectar o meu bebé. Sinto um aroma muito bem conhecido por mim, a palma macia que afaga a minha cabeça e me aproximo mais querendo o toque da minha mãe.






—— Como está se sentindo, filho? —— Perguntou com a mansidão presente na sua voz —— Estou melhor, mãe, muito melhor —— O meu corpo relaxou quando ela passava a mão pela minha cabeça raspada e abraço a sua cintura, como senti saudades do seu colo —— Você ainda está mole, vem comer, fiz o matabicho para ti —— Resmungo me e aumento o aperto ao redor da sua cintura e ela puxou a minha orelha.





—— Não podes ficar o dia todo na cama e vem rápido que o seu marido está esperando por nós —— Disse indo dobrar a cortina e a luz do sol cegou os meus olhos por instantes —— Fiz vitamina de abacate para ti —— Falou vindo me ajudar a levantar e abraço novamente, sinto os meus olhos ardendo —— Não precisa chorar, meu bebé, sempre vou estar aqui para ti —— Afagou as minhas costas e ali ficamos por uns bons minutos.










—— Ele não é o meu marido, mãe —— Digo quando me afasto dela e ela inclinou um pouco para a esquerda com a sobrancelha erguida, incrédula com a minha fala —— Vocês vivem na mesma casa, ele se apresentou e vão ter um filho, na minha época era mais que o suficiente para ser considerado casado —— Respondeu calma e eu sei que ela está falando sério mas não posso arrastar o Aaron para as minhas tradições —— Isso era no passado, agora as coisas são diferentes, mamã —— Assentiu se afastando de mim.






—— Jovens e as suas modernisses. Vá lavar a cara e coma antes que a comida esfrie, filho —— Exclamou indo até o meu quarta-roupa, fui fazer um banho rápido e voltei com uma toalha enrolada ao corpo. Ela ficou olhando para mim sem desviar e eu queria me vestir mas como dizer isso a ela sem que se sinta ofendida? Eu não sei —— Eu troquei as suas fraldas e limpei o seu traseiro por anos, para quê a vergonha? —— Perguntou me dando as costas.




—— Não é a mesma coisa, sou adulto agora, mãe —— Retruco começando a me vestir —— Eu sou a sua mãe então não faz diferença. Posso me virar? —— Pediu após uns minutos e eu respondi que sim, ela virou-se e veio me observar enquanto tomava o pequeno almoço, eu estava comendo como se estivesse com a fome de um elefante —— O que está acontecendo, filho? —— A minha mãe perguntou quando notou o silêncio da minha parte depois de ter comido —— Como assim? Não está acontecendo nada, mãe —— Tento esquivar da sua pergunta.













—— Podes enganar o teu marido mas a mim tu não me enganas. Podes dizer-me o que te preocupa —— Disse segurando a minha mão e eu queria contar tudo que está me sufocando, contar a ela sobre o Hans, as ameaças, o meu pai mas isso apenas a colocaria em mais perigo e prefiro não arriscar. Ela sentou-se na minha frente —— No dia que recebi a notícia sobre o seu pai, eu fiquei arrasada e ainda tenho saudades dele, não vou mentir. Naquele dia senti como se um pedaço de mim tivesse sido arrancado, doeu e ainda dói lembrar daquele momento —— A tristeza na voz dela era quase palpável e fraquejava a medida que ia falando.









—— Naquele dia eu cometi o meu maior erro e me arrependo profundamente por ter deixado dominar pelo meu sentimento de perda —— Ela segurou as minhas mãos e descansou a sua cabeça sobre elas —— Perdoa-me, filho por sido tão injusta e ter te dito coisas tão cruéis —— O meu coração ficou apertado ao ver a minha mãe me pedindo perdão mesmo eu sentindo que ela nunca tenha feito nada de errado, dói ver ela sofrendo —— Eu te amo, mamã —— Respondo a abraçando —— Amuene ka sukuro! —— Sussurrou no nosso dialecto, só agora percebi que nunca falei Emacua na frente do Aaron. Descemos para sala quando ficamos mais calmos, ainda sinto uma leva fraqueza mas nada que me impossibilita de caminhar.







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