Capítulo 28

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Ramos Carvalho Krause


—— Nós podemos resolver, precisamos ter calma —— Sinto vontade de meter a mão na cara dele mas não tenho forças para isso no momento —— Liguei para a Olga. Precisamos dela agora —— Suspiro exausto com o trabalho e ainda tenho que lidar com os pais dele sobre a guarda da minha filha ——  Ela é a única pessoa que preciso agora —— Sem me virar para ele, eu sinto que vou bater ou jogar alguma coisa em cima dele se eu olhar para cara dele agora —— Vou sair um pouco mas volto antes do jantar —— Assinto indo até o guarda-roupa para me preparar para o trabalho. Ao me virar me encontro com ele olhando para mim, posso ver a tristeza nos seus olhos.






—— Sabes que eu odeio quando fazes isso —— Andreas veio até mim e tentou me abraçar mas não me afasto do seu toque —— Você tem culhões para estar dizendo isso —— Andreas suspirou cansado —— Eu prometo que vou conversar com os meus pais sobre a nossa filha —— Rio seco com a sua resposta —— O que você pode fazer? Eles têm o apoio do Conselho titular. Eu juro que jamais te perdoarei se eu não recuperar a minha filha!—— Grito apontando para o seu rosto.




—— Ela saiu assustada e não pude fazer nada. Você sabe o que ser separado dos seus pais faz com uma criança? Se tiver que eu  me divorciar de ti para ter a minha Gina de volta, eu farei, mesmo que doía —— Ele permaneceu com a cabeça abaixada —— Não me espere para jantar —— Digo saindo do quarto.




Estou me sentindo um merda por não ter impedir que levassem a minha filha porém não me arrependo porque eu teria piorado tudo se refutasse e não quero que a minha filha seja exposta a violência. Olho para o anel dourado no meu dedo anelar esquerda prova da minha união com Andreas Schmidt Krause, o homem que tanto amo mas desejo não o fazer as vezes. Sempre me pergunto o motivo que me levou a me apaixonar por aquele jovem de vinte anos que a minha mãe me apresentou. Se eu pudesse teria me afastado e não teria retribuído às suas investidas.







Dirijo por quase vinte minutos até chegar a meu local de trabalho que gosto de chamar de inferno, não me entenda, eu gosto do meu trabalho mas tem dias que penso em desistir de tudo e ficar no conforto da minha casa. Eu já teria parado de trabalhar se seguisse o pedido do meu marido mas recuso-me a depender veementemente do meu parceiro.




—— P'ra minha sala, Krause! —— Ouço assim que entro no escritório e céus, eu odiava o meu chefe. Vou seguindo directo até o escritório dele e o velho homem de cabelo crespo grisalho estava literalmente deitado na sua secretária mostrando a pança de cerveja —— Chegou cedo hoje, Krause. O que foi? O seu marido foi mais leigo contigo hoje? —— Perguntou com veneno na sua voz e mostro um sorriso ao imaginá-lo pegando fogo e outras coisas que não desejo a ninguém além dele, claro —— Porque me chamou, senhor? —— Pergunto sério.






—— Eu quero que vá com os novatos para garantir que ninguém perturba a nação durante a marcha pacífica de amanhã —— Disse com rugas na testa —— Não vejo a necessidade de eu ir.  Eles invoncaram o artigo 51, eles estão em total direito de fazê-lo —— O velho homem me encarou calado e ali soube que havia feito merda —— Não pedi a sua opinião, Krause. Aquele advogado imbecil que enche o povo com manifestações fúteis deve ser parado —— Aperto o punho ao ouvi-lo falando do Domingos, preciso desse emprego —— Não acho que lutar pela igualdade seja algo fútil. A elite e aqueles que podem pagar têm emprego garantido enquanto a maioria sofre com fome e desemprego, isso é um bom motivo para se fazer uma manifestação —— Respondi o mais calmo possível.






—— Você fala como se fosse algo errado. São eles que fazem mil filhos antes de concluir os estudos e acabam por não conseguir trabalho. Todos sofrem, Krause mas alguns escolhem sofrer —— Deu de ombros —— Quero você lá. Alguém deixou isso para ti —— Disse me entregando um envelope e o mais estranho é que não tinha remetente mas mesmo assim decidi abrir. O meu corpo foi tomando por um calafrio a medida que lia cada palavra escrita no papel.







—— Deve ser algo muito sério para você estar tão pálido —— Amasso o papel com raiva —— Você tem alguma coisa a ver com isso, agente Jorge? —— Sorriu matreiro afirmando as minhas suspeitas —— Que isso, Krause! Eu jamais faria nada contra você ou a sua família —— Debochou descansando as mãos atrás da cabeça —— Eu recebi o seu pedido de dispensa, você pode ir para casa hoje mas eu te quero aqui amanhã —— Mordo os meus lábios para conter a minha raiva.








Saio em disparada em direcção ao quarto, preciso ver a minha filha. Olho pela janela indeciso entre ir até lá ou voltar para o trabalho mas eu quero tanto ver a minha filha —— O que você quer aqui? —— Escuto uma voz masculino ao pé do meu carro —— Senhor Krause! Acho que é óbvio o que me traz até à sua humilde casa —— Digo com deboche e ele torceu o nariz com desprezo nos olhos —— Pois faça o favor de ir embora, não vou permitir actos indecentes perto da minha neta —— Saio do carro e paro na sua frente.







—— Ela é minha filha e tenho todo o direito de estar com ela —— O homem tinha os olhos idênticos aos de Andreas, azuis como o vasto céu da noite de lua cheio —— Você perverteu o meu filho e agora quer fazer o mesmo com a minha neta, só por cima do meu cadáver deixarei isso acontecer —— Disse apontando o dedo para a minha cara mas eu não queria que esse velho enfartasse, ele pode ser imbecil mas é o pai do meu marido e o Andreas adora os pais.






O meu ser encheu-se de alegria assim que vi a minha filha correndo para mim e a abracei o seu pequeno corpo —— Oh minha bebé! Graças a Deus você está bem. Eu te amo tanto, meu amor —— Ouvir os soluços dela partem o meu coração em mil pedaços e eu quero tanto chorar, o seu rosto estava meio inchado mas nada que tirasse a sua beleza. Beijo às suas bochechas gordinhas —— Pensei que não virias me buscar. Senti saudades, pai —— Afago os seus cachos negros —— Também senti saudades. Os seus avós são bons com você? —— Pergunto a fazendo assentir.



—— Gina, vem com o vovô —— Ela balançou a cabeça me abraçando e aquilo partiu meu peito —— Eu quero ficar com o meu pai e o papá —— Disse chorando e o senhor Krause revirou olhos tediado com a cena —— Escuta, filha. Eu e o papá estamos muito ocupados com o trabalho por isso você vai ficar com os seus avós por uns dias, tá bom, filha? —— Os seus olhos encheram de água assim que terminei de falar —— Eu não quero ficar com eles eu quero ficar com você e o papá —— Disse num fio de voz e apertou a minha camisa.










Antes que respondesse, ela foi tirada dos meus braços bruscamente —— Não toque na minha neta e saia daqui antes que eu chame o conselho titular —— Disse a mãe do meu marido e a minha filha chorando estava acabando comigo —— Deixa eu acalmar ela e depois vou embora —— Gina se remexia nos braços da mulher de meia idade não se importava com o seu choro —— Vá embora! —— Falou voltando a costas para mim e não poder fazer nada estava acabando comigo. Tiro o meu telemóvel do bolso e a carta anónima e disco o número que está nele e no segundo toque sou atendido —— Para eu estar recebendo a sua ligação significa que você aceita o "meu pedido" —— Engulo seco antes de responder e ele riu levemente —— Complecte a missão e a Gina volta para você e não me decepcione ou sabe o que vai acontecer —— Encerrou a chamada.

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