Capítulo 4

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• Fernando •

Os dois momentos do meu dia que eram compartilhados com Maiara geralmente eram os meus preferidos. Mas nós nunca tínhamos passado daquilo: o horário de almoço dividindo fones de ouvido enquanto estudávamos (bem, enquanto eu estudava. Na maioria das vezes, Maiara lia romances) e os poucos minutos no carro, no trajeto da escola até a lanchonete onde ela trabalhava.

O fato era que Maiara tinha, em alguns meses, se tornado minha melhor amiga, embora nunca tivéssemos nos encontrado fora da escola. A única vez em que cogitei por alto convidá-la para uma festa, recebi junto à resposta uma expressão que deixava bem claro que aquele não era o tipo de diversão que ela apreciava. Eu também havia mencionado alguns filmes que estavam em cartaz nos cinemas, mas este era um outro ponto em que nossos gostos não pareciam bater. Eu gostava de coisas mais cult, como filmes europeus, e quando queria algo mais 'leve', curtia uns filmes de ação com muitas explosões e tiros. Já Maiara era fã de dramas e romances. Contudo, aquilo já não parecia mais ser o suficiente para mim. Eu queria estar mais com Maiara.

Ao final de mais um dia de aula, nós nos encontramos no estacionamento e, logo que entramos no carro e colocamos os cintos de segurança, eu me preparei para ligar o rádio. No entanto, detive-me quando o telefone dela tocou.

Maiara: Oi, mãe! — ela atendeu. — ...Não esquenta com isso. Você estava dormindo quando eu saí e não quis te acordar. ...Não, mãe, não precisa. ...É sério, não se preocupe com isso. ...Você sabe que eu nem ligo para essa coisa de aniversário...

A última palavra me acendeu um alerta e eu olhei para ela, ainda com o carro parado. Aguardei que ela encerrasse a ligação para perguntar:

Fernando: Seu aniversário está chegando?

Maiara: É no dia trinta e um.

Fernando: Deste mês?

Maiara: É.

Fernando: Espera... isso é semana que vem.

Ela riu, achando graça da minha conclusão nada incrível.

Maiara: Exatamente.

Fernando: Por que não me contou antes?

Maiara: Como você deve ter me ouvido falar com a minha mãe, eu não ligo para essa coisa de aniversário. Vou me importar bem mais com o do ano que vem, quando eu enfim completar dezoito.

Fernando: É seu aniversário! Você deveria comemorar. Quais os planos da sua mãe?

Maiara: Ela está de folga do trabalho e foi ao mercado. Disse que ia comprar ingredientes para fazer um bolo na semana que vem e perguntou se prefiro de morango ou chocolate.

Fernando: Não te ouvi escolhendo nenhum dos dois.

Maiara: Porque não quero que ela faça nada. A ideia dela é apenas preparar um bolo para comermos juntas quando eu chegar à noite do trabalho, só nós duas mesmo. Mas eu disse a ela que não precisa, não quero que ela se canse.

Mais um alerta foi aceso em mim quando ela disse aquilo sobre não querer que a mãe se cansasse. Preparar um bolo não devia ser algo tão cansativo assim. Porém, ela já havia me dito que sua mãe era enfermeira, e eu sabia bem que o trabalho de profissionais de enfermagem não era algo muito simples, então deduzi que ela queria que sua mãe descansasse o máximo possível em seu dia de folga.

Fernando: Mas você podia ter contado para mim. Somos amigos, não é?

Maiara: Você também não me contou sobre o seu. Está no último ano, já deve ter completado dezoito anos em algum momento desde que nos conhecemos.

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