• Fernando •
Maiara era como uma caixinha de surpresas. Como uma linda e adorável caixinha cheia das mais diversas surpresas.
Lembrava que, quando a conheci, minha primeira impressão a seu respeito era se tratar de uma garota linda, porém reclusa. Do tipo que caminhava pelos corredores da escola sem chamar a atenção, e provavelmente devia ser assim também em sala de aula.
Se não fosse o dia em que a encontrei na horta – quando eu mesmo também estava buscando por um pouco de solidão – talvez eu passasse o ano escolar inteiro sem sequer perceber sua presença, de tão discreta que ela era.
Depois de nos conhecermos, todas as vezes em que passamos um pelo outro pelos corredores, eu geralmente estava acompanhado por outras pessoas. Por colegas de turma ou de basquete, por caras que achavam ser meus amigos, ou por garotas que buscavam por alguma chance de terem algo comigo. E em todas essas ocasiões, eu acenava para ela. Lembrava-me de as pessoas perto de mim voltarem seus olhos para a direção na qual eu acenava e depois seguirem o assunto, nunca sequer questionando sobre quem seria aquela garota.
Agora, eu entendia que essa discrição era justamente o que Maiara desejava ao não querer fazer parte de conversas em grupos e ao camuflar sua beleza atrás de roupas básicas e de um semblante sério.
O que eu entendia a respeito disso? As coisas sempre foram fáceis demais para mim. Tanto, que eu sequer podia saber se as pessoas que estavam constantemente ao meu redor gostavam verdadeiramente de mim.
Mas com Maiara era diferente. Ela era verdadeira. Talvez ela fosse a única coisa real na minha vida.
O motorista parou o carro em frente à casa dela e respirei fundo antes de bater na porta. Aprumei o corpo, ajeitando o buquê de rosas em minhas mãos. Apesar de coloridas demais em comparação a ela – que gostava de cores como preto, branco e cinza – a mistura delas era, ao mesmo tempo, diversa e harmoniosa. E eu achava que elas combinavam perfeitamente com Maiara.
Eu não sabia por que estava tão nervoso. Mas me sentia como um garoto apaixonado. Bem... No fundo, era exatamente o que eu era. Quando a porta se abriu, quem me recebeu foi a mãe dela, Almira.
Almira: Olá, querido! — ela me cumprimentou com um sorriso. — Maiara já estava te esperando, mas disse agora que tinha esquecido alguma coisa e subiu para pegar, já deve estar descendo. Quer entrar para esperar?
Fernando: Obrigado, senhora Almi... — Ela fez uma careta, obrigando-me a me corrigir. — Almira. Não precisa, eu espero aqui.
Almira: São lindas flores — ela disse. — Maiara vai amar.
Fernando: Espero que sim. E como estão indo as coisas no trabalho? Se precisar de mais alguma redução de horário...
Almira: Se reduzir ainda mais, não vou nem precisar sair de casa.
Fernando: Talvez uma licença não seja algo ruim.
Almira: Amo meu trabalho. No dia que tiver que parar, acho que adoeço ainda mais.
Fernando: Entendo. Ah, e antes de tudo: prometo que trarei Maiara de volta antes das dez.
Ela revirou os olhos.
Almira: Já são quase sete, Fernando. Pelo amor de Deus, vocês são dois adolescentes. Lembro que eu, no meu baile de formatura, cheguei em casa às seis da manhã.
Fernando: Não será o caso de Maiara, fique tranquila.
Ela olhou para trás, como se para checar que a filha não estava por perto. Só então voltou a me olhar e falou:
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O fruto do nosso amor
Hayran KurguEles se apaixonaram na adolescência. Mas um reencontro, anos depois, revelou que o médico milionário era pai. Fernando e Maiara se conheceram no ensino médio. Ele era o garoto milionário da cidade, o popular que já estava cansado de toda a bajulaç...