Capítulo 33

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• Maiara •

Já fazia quase uma semana que eu tinha retornado, mas simplesmente não havia chegado a decisão alguma.

O reencontro com Fernando trouxe à tona um turbilhão de lembranças que abriam uma grande e antiga ferida em meu peito, revelando toda a carga de sentimentos que marcaram o pior período da minha vida... As ameaças de Filomena... A dor de ter que mentir para Fernando... A morte da minha mãe... A solidão, o desespero...

Descobrir que estava grávida, em meio a tudo aquilo, trouxe a mim muito medo e insegurança. Contudo, quando Bettina veio ao mundo, ela pareceu trazer junto a ela um raio de luz para a minha vida. Ela me fez voltar a sorrir, fez com que eu sentisse esperança em um futuro melhor, que eu acreditasse que de alguma forma nós ficaríamos bem. E nós ficamos.

Ana, Eduardo e até mesmo Marco – embora a gente nunca tivesse longas conversas e ele não fosse adepto a demonstrações de carinho – foram a minha base familiar e me ajudaram a superar os obstáculos.

E agora lá estávamos nós duas, Nina e eu, de volta àquela casa. Minha filha estava muito feliz, especialmente por retornar à sua antiga escola – como Ana era professora de lá, conseguiu uma autorização para que Nina frequentasse as aulas de seu ano escolar, mesmo estando matriculada em outro colégio. E, é claro, por estar perto dos seus amados tios e avós.

Na presença dela, eu tentava fingir que estava bem, mas a grande verdade é que durante a maior parte do tempo eu sequer saía do meu antigo quarto. Aquele dia foi uma das poucas exceções. Precisei ir à farmácia comprar o antialérgico de Nina, que já estava acabando. Podia pedir para Ana ou Marco comprarem para mim na volta de seus trabalhos para casa, mas acho que quis caminhar um pouco e sentir o sol sobre a minha pele, mesmo que por poucos minutos. Já chegava à entrada de casa quando ouvi alguém me chamar.

João: Maiara?

Virei-me, me deparando com João. E, nossa, parecia ter se passado uma eternidade desde que o vira pela última vez.

Maiara: Oi, João.

João: Está na cidade e não me contou?

Maiara: Desculpe. Eu cheguei há poucos dias e... estive bem ocupada.

Ocupada com meus pensamentos, basicamente. E nenhum deles passou nem perto da figura de João. Mas não seria muito educado mencionar essa parte.

João: Vai ficar até quando? Não me diga que voltou de vez?

Ele sorriu e aquela foi mais uma decepção. Ele estava torcendo mesmo para que eu tivesse sido demitida ou desistido do meu emprego. Onde diabos eu estive com minha cabeça quando achei que ele fosse o cara certo para eu ter tentado seguir em frente com minha vida amorosa?

Maiara: Não. Estou apenas de licença — respondi.

João: Licença? Está doente? Ou é algo com a Bettina?

Maiara: Não. Estamos bem. Eu só precisei... descansar por alguns dias.

João: Acabou de começar nesse novo emprego e já te concederam dias de licença para 'descansar'? Você parece ter feito boas amizades no alto escalão de lá, não é?

Maiara: Foi bom te ver, João.

Voltei a caminhar até a porta e já a abria quando ele novamente me chamou:

João: Ei, Maiara, podemos marcar alguma coisa qualquer dia desses? Não precisa ser um encontro, pode ser algo como amigos. Você pode levar a Bettina, estou morrendo de saudades dela.

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