Capítulo 5

428 63 10
                                    

• Maiara •

Fernando pareceu entender quando eu disse que não ligava para aniversários. Bem, ou era isso, ou ele tinha realmente esquecido. Porque, quando chegou o dia, ele não disse uma mísera palavra a respeito quando passamos o intervalo juntos e nem mesmo quando me deu carona até o meu trabalho.

Nossas conversas foram como as de todos os outros dias. Fora isso, eu tinha conseguido fazer minha mãe desistir da ideia de preparar um bolo. Então, toda a lembrança que tive sobre aquele dia ser meu aniversário foi por meio de mensagens que recebi no celular, de alguns poucos colegas da minha antiga cidade, com os quais eu ainda mantinha contato.

Quando chegou o final do meu expediente, às oito e meia da noite, eu fui para o banheiro da lanchonete, onde me livrei daquele uniforme horroroso e vesti minhas roupas compostas corriqueiramente por calças jeans e uma blusa de moletom.

Antes que eu saísse do banheiro, no entanto, meu celular tocou. Quando o peguei e olhei para o nome exibido no visor, a vontade de ignorar foi grande. Porém, acabei atendendo. Talvez por uma atitude masoquista da minha parte.

Maiara: Oi, César — falei. Já fazia muitos anos que eu o chamava pelo nome e não mais por 'pai'.

Marco César: Maiara. Como vai?

Como eu estava? Em uma preocupação permanente com a saúde da minha mãe? Cansada depois de horas de trabalho para complementar a renda de casa e com isso não permitir que minha mãe ficasse sem seus remédios? Tentando esquecer que aquele dia era a porcaria do meu aniversário?

Maiara: Estou bem — foi só o que respondi, por fim.

Marco César: E sua mãe?

Maiara: Bem também.

Marco César: Já te disse, se vocês precisarem de alguma coisa...

É, ele tinha dito. Provavelmente no último Natal, que foi quando tinha me ligado anteriormente.

Maiara: Não estamos precisando de nada.

Ficamos em silêncio. Ele tinha me ligado, então eu esperava que dissesse o que pretendia dizer. Contudo, ele parecia absurdamente desconfortável sempre que me ligava.

Marco César: Então... — ele enfim começou. — Estou ligando para te desejar um feliz aniversário.

Maiara: Obrigada.

Marco César: Ana está mandando um beijo. Eduardo também.

Maiara: Obrigada — foi só o que repeti.

Ana, esposa dele, não parecia uma má pessoa. E, mesmo que nós mal nos conhecêssemos, eu não duvidava que ela tivesse mesmo mandado o beijo, para ser educada. Já o filho dela, Eduardo, como um bom adolescente, não deveria nem estar em casa àquela hora e, caso estivesse, provavelmente estava enfurnado em seu quarto. Mas meu pai sempre mentia dizendo que ele também tinha me mandado um beijo, para soar mais educado. E para parecerem ainda mais como uma porcaria de uma família perfeita.

Marco César: Então... — ele voltou a falar. Mas logo o silêncio voltou a reinar.

Ele não sabia o que dizer. Porque nem tinha o que dizer. Éramos pouco mais do que dois estranhos um para o outro. Por isso, decidi facilitar a vida dele e encerrar o problema:

Maiara: Eu preciso desligar. Estou saindo do trabalho agora.

Marco César: Você está trabalhando?

Foi quando eu me dei conta de que ele sequer sabia daquele detalhe a meu respeito.

Maiara: É, estou. Preciso mesmo desligar. Nos falamos outra hora.

O fruto do nosso amorOnde histórias criam vida. Descubra agora