Capítulo 41

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• Maiara •

Como descrever a perfeição com que os três meses seguintes se passaram? Foram perfeitos, intensos e, pela quantidade de acontecimentos, às vezes mais parecia que não tinha sido apenas um período de noventa e poucos dias, mas de no mínimo um ano inteiro.

Se eu já precisei lidar com os olhares curiosos em minha direção nas primeiras vezes que cheguei ao hospital de mãos dadas com Fernando, a coisa só piorou quando pessoas começaram a nos ver na rua, indo juntos levar e buscar Bettina na escola, saindo juntos pela manhã do meu apartamento ou chegando ao apartamento dele.

Fernando não quis adiar o reconhecimento de paternidade de Nina, e ela agora tinha um novo sobrenome em sua certidão. Era Bettina Pereira Zorzanello. E, em meio a isso, meu agora (novamente) namorado facilmente me convenceu de que seria muito melhor se passássemos a morar todos juntos.

Então, Nina e eu estávamos, agora, em mais um processo de mudança. Logo iríamos para o apartamento de Fernando. A decisão tinha sido tomada há algumas semanas, mas queríamos que fosse tudo perfeito, então o quarto que passaria a ser de Nina precisou entrar em uma pequena reforma.

O cômodo, antes usado como quarto de hóspedes, tinha as paredes pintadas de cinza. Nina decidiu que o queria bem colorido, com uma parede de cada cor: roxo, rosa e azul, que eram as suas três cores favoritas. E ela queria, também, notas musicais pintadas nas paredes e toda a decoração remetendo à música.

Após a pintura, aguardávamos a finalização dos móveis planejados que encomendamos – todos escolhidos a dedo pela nossa pequena e exigente filha. Enquanto isso, nós duas seguíamos no nosso apartamento alugado, e Fernando dormia lá praticamente todas as noites em que não estava de plantão.

Como as notícias corriam rápido por aquele hospital, todo mundo já sabia sobre a minha relação com o Doutor Ex-Coração-de-Gelo. Eu me senti muito grata quando surgiu uma nova fofoca a respeito de outros funcionários de lá e, com isso, os olhares em minha direção reduziram significativamente.

Roze: Você não vai acreditar nisso... — disse Roze, logo que me encontrou naquele dia, pouco depois do almoço. — O chefe da neurologia e uma das novas residentes foram flagrados juntos, aos amassos, em uma das salas do quinto andar. Eles são casados!

Maiara: Pessoas casadas às vezes curtem essas aventuras em locais inusitados.

Logo que disse isso, pensei no quanto poderia ser excitante fazer sexo com Fernando em algum lugar daquele hospital. Inapropriado, antiético, mas sem dúvidas bem excitante.

Roze me corrigiu:

Roze: Eles são casados. Mas não um com o outro. Com outras pessoas.

Maiara: É... Aí é um problema.

Roze: Estão dizendo que vai rolar até um processo administrativo.

Maiara: Quem está dizendo?

Roze: Maiara, você já devia saber que eu nunca revelo as minhas fontes.

Maiara: Amiga, você não é uma jornalista. É uma fofoqueira, é muito diferente.

Roze: Jornalismo era a minha segunda opção na faculdade. O bom desse hospital é que ele rende pautas o suficiente para eu poder pôr em prática esse meu lado de investigação de notícias.

Maiara: São fofocas, amiga. Não notícias.

Roze: Ai, Maiara, para de ser chata!

Ela estava comendo um pacote de batatas chips e tacou uma em mim de maneira implicante, como se tivéssemos onze anos de idade.

O fruto do nosso amorOnde histórias criam vida. Descubra agora