Capítulo 36

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• Fernando •

Aquele tinha sido o dia mais intenso de toda a minha vida. Isso porque ainda nem havia chegado ao fim. Maiara estava certa quando disse que Nina possuía uma energia que parecia não acabar nunca. Ela passou nosso almoço inteiro me contando a respeito de toda a vida dela. Até de coisas que eu definitivamente não queria saber, como sobre um tal de 'Tio João', um ex-namorado de Maiara.

Depois de comermos, ela quis retornar ao parque, porque queria continuar praticando em seu skate. Quando percebemos, a noite já começava a cair e, por mais que fosse humanamente impossível que aquela garotinha não estivesse esgotada fisicamente, ela ainda choramingou dizendo que queria ficar mais.

De lá, fomos ao Jazz Bar, onde ela devorou uma porção de batata frita, mostrou que conhecia quase todas as músicas tocadas lá, e aproveitou para me contar mais coisas sobre sua vida. E eu definitivamente não me cansava de ouvi-la. Especialmente pelo fato de ela falar o tempo inteiro comigo me chamando de 'papai'. Pensei em como, há apenas alguns dias, aquela palavra soava distante para mim. Mas desde o primeiro momento que a ouvi sendo dita pela voz de Nina, fui tomado por uma emoção muito grande. E ser chamado daquela forma pareceu tão... natural, e, ao mesmo tempo, tão incrível.

Tive tantas dúvidas quando descobri que tinha uma filha. Não a respeito de ser realmente o pai dela, mas sobre ser capaz de exercer essa função de forma completa. Não apenas lhe dando o meu sobrenome ou pagando uma pensão, mas sendo verdadeiramente pai. Um bom pai, como o meu tinha sido para mim.

Muitas dessas dúvidas prosseguiam, e eu tinha a impressão de que persistiriam para sempre. Mas, se havia uma certeza em mim, era de que eu faria qualquer coisa no mundo para que Bettina fosse feliz. E que eu já a amava. De uma forma que nunca imaginei ser capaz de amar outro ser humano.

Passamos algumas horas no bar e, apesar de Nina ainda ter insistido que queria ficar mais, logo que saímos de lá e eu a peguei no colo para fazermos o curto trajeto a pé dali até o apartamento de Maiara, ela apagou em meus braços. Entramos no apartamento e Maiara me guiou até o quarto de Nina, parando à porta enquanto eu levava a nossa garotinha até a cama e a colocava lá.

Tirei seus sapatos, deitei-a sobre o colchão e a cobri, parando por algum tempo fitando seu rosto lindo. Ela era uma mistura perfeita de Maiara e eu. Eu não era um cara de derramar lágrimas. Mas era impressionante o quanto isso vinha acontecendo com tanta frequência naquelas últimas semanas. Olhar para Nina, vendo-a dormir com aquele rostinho tão sereno, trazia ao meu peito um turbilhão de emoções.

Passei algum tempo ali, até perceber que já era tarde e eu precisava ir embora. Levantei-me, quando me virei, avistei Maiara parada diante da porta, me observando com os olhos marejados. Ela me lançou um sorriso, antes de sair, e eu a segui, encontrando-a no corredor, com as costas apoiadas à parede. Fechei a porta do quarto de Nina e caminhei alguns passos, parando de frente para Maiara, também me encostando à parede, do lado oposto do corredor onde ela estava.

Maiara: E então? — ela começou a falar. — Vai querer beber alguma coisa?

Fernando: Não, obrigado. Estou evitando álcool.

Maiara: Bem, eu não teria mesmo nada alcoólico para te oferecer. Tenho apenas refrigerante, e... talvez leite com achocolatado.

Ela riu levemente e eu ri junto.

Fernando: Uma casa com criança, não é? — comentei.

Maiara: É. Mas o refrigerante só é liberado aos finais de semana. Além de ser filha de uma enfermeira, Nina também é sobrinha de um dentista, o Bruno, marido do meu irmão. Não sou muito rígida, mas... Tento manter algum controle.

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