• Fernando •
Meu celular tocou sobre o balcão do bar e eu apenas voltei meus olhos para ele, irritando-me ao ver o contato da minha mãe piscando na tela. Sabia que de nada adiantaria bloquear todos os números dela, ela ainda assim encontraria outros meios de tentar falar comigo.
Por isso que, como eu fazia sempre que ela tentava contato, eu apenas deslizava o dedo sobre a opção 'rejeitar ligação', para que ela soubesse que eu estava vendo as tentativas dela e optando por ignorá-la.
Já fazia quase três semanas, e ela ainda não desistira. Por mim, ela poderia seguir infinitamente tentando contato, que nada me faria ceder.
A cantora da noite começou uma música da Norah Jones apenas alguns segundos antes do barman colocar um copo à minha frente, servindo-o com o uísque que eu havia pedido. Segurei o copo, girando-o em minha mão e olhando o conteúdo dentro dele. Já fazia algum tempo que eu não conseguia mais beber. O que era irônico, já que a bebida vinha sendo minha válvula de escape já há tantos anos. Só que alguma coisa havia se transformado em mim naquele dia. No dia em que eu estava completamente bêbado na sala do apartamento de Maiara e Nina surgiu na minha frente.
Ela provavelmente nem tinha percebido isso, mas, de qualquer maneira, eu me senti envergonhado. Senti vergonha de ser um sujeito que enche a cara para não encarar os próprios problemas ou para anestesiar suas dores internas. Nina merecia muito mais do que isso como...
Pai...
Aquela palavra sendo atribuída a mim ainda me soava estranha, inadequada... Mas já não era mais incômoda. Talvez em algum momento, me soasse natural. Naquela noite, porém, senti muita vontade de beber, e por isso aproveitei um intervalo entre cirurgias para ir ao bar. Porém, mal segurava o copo entre os dedos e aquele desejo ia embora por completo.
Percebi que alguém se sentava no banco ao meu lado, mas segui com meus olhos fixos ao copo, até ouvir a voz familiar:
Maiara: Uma coca com gelo, por favor.
Virei o rosto em direção à Maiara, que, tranquilamente, fez o mesmo, olhando para mim de forma serena.
Maiara: Boa noite, Fernando. Ou Doutor Zorzanello. Nem sei mais como devo te chamar. Mas... Oi.
Fernando: Oi... — respondi, surpreso com a presença dela ali. — Você voltou...
Maiara: É, voltei. Não precisei de um mês inteiro, embora tenha sido perto disso, não é?
Fernando: Onde está a Bettina? — perguntei, temendo que a menina tivesse continuado na casa do avô, o que poderia significar que aquele retorno de Maiara não seria algo definitivo.
Maiara: Ela está em casa.
Fernando: Em casa... — repeti. E ela pareceu entender a minha dúvida.
Maiara: Na casa daqui. No meu apartamento. Voltamos ontem. Contratei uma babá para cuidar dela essa noite.
Fernando: Fico feliz que tenha decidido voltar.
Maiara: Liguei para o hospital e me informaram que você estaria de plantão hoje, então fui até lá para conversar contigo. Mas quando cheguei e me disseram que você tinha dado uma saída, deduzi que poderia te encontrar aqui.
Fernando: É para onde eu sempre venho à noite, quando preciso relaxar. Por razões óbvias... — Apontei para o palco, me referindo ao estilo musical do local.
Maiara provavelmente tinha compreendido aquilo. O barman se aproximou, servindo a ela o seu refrigerante. Quando ele se afastou, Maiara me mostrou o cartão magnético que tinha em mãos.
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O fruto do nosso amor
FanfictionEles se apaixonaram na adolescência. Mas um reencontro, anos depois, revelou que o médico milionário era pai. Fernando e Maiara se conheceram no ensino médio. Ele era o garoto milionário da cidade, o popular que já estava cansado de toda a bajulaç...