Capítulo 30

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• Maiara •

Abaixei-me diante de Nina e a abracei, como se tentasse protegê-la de algo. E, na verdade, eu queria. Não de Fernando em si, mas das coisas que ele poderia dizer diante dela, que poderiam vir a deixá-la confusa ou até mesmo magoá-la.

Queria sair de lá com ela, imediatamente, mas percebi que não seria tão simples assim quando Fernando pronunciou o meu nome, na primeira vez que me dirigia a palavra desde que nos reencontramos.

Fernando: Maiara...

Ele nitidamente não sabia exatamente como continuar. E eu decidi que, antes que ele se recuperasse do choque e fosse capaz de formular qualquer pergunta, eu precisava tirar minha filha dali.

Maiara: Coraçãozinho, por que você não sobe de volta para o andar de cima? Tia Roze está no corredor, na frente da porta da sala onde você estava. Volte até lá e fique com ela até eu voltar, tá?

Bettina: Eu só vim pegar um lanche, mamãe. A tia Roze deixou... — ela se apressou em se defender.

Maiara: Eu sei, meu amor. Eu sei. Volte lá para perto da tia Roze, que a mamãe já está indo também, tá?

Ela concordou e se afastou de mim. Antes de seguir para as escadas, no entanto, virou-se novamente de frente para Fernando e acenou para ele.

Bettina: Obrigada de novo, tio Fernando! Você é muito legal!

Ele apenas movimentou levemente a cabeça em uma despedida silenciosa. Parecia paralisado, incapaz de qualquer movimento maior. Aguardei que ela subisse até o andar de cima e, só então, disse algo diretamente para Fernando:

Maiara: Sei que não é permitido trazer filhos menores para o trabalho, mas ela precisou sair mais cedo da escola e eu não tinha com quem deixá-la. Prometo que não vai se repetir.

Ele caminhou devagar em minha direção, parando bem diante de mim.

Fernando: Você teve uma filha... — ele falou, a voz falhada, ainda incrédulo.

Eu quase ri diante daquilo. Quando liguei para ele para contar que estava grávida, ele meramente tomou como uma mentira e, aparentemente, em momento algum daqueles últimos anos tinha chegado a cogitar a possibilidade de ser verdade.

Maiara: Preciso voltar para o meu trabalho — declarei.

Virei-me para sair dali, mas a mão de Fernando agarrou um dos meus braços de forma firme, embora sem me machucar.

Fernando: A gente precisa conversar, Maiara.

Puxei meu braço de volta.

Maiara: Conversar? Eu quis conversar com você há oito anos, Fernando, e você me destratou e me insultou. Quis conversar contigo há alguns dias, e você me tratou como se eu fosse lixo. Agora você quer conversar comigo?

Fernando: A Bettina...

Maiara: O que tem a minha filha?

Fernando: Ela não pode ser filha do Luiz.

Maiara: E como você pode saber disso? Quando eu disse que não voltei a encontrar o Luiz, você me chamou de mentirosa. Então, ela pode perfeitamente ser filha dele, por que não?

Fernando: Por que não? Para começar, porque o Luiz não é moreno.

Só então, me atentei à ocasião em que falei com Fernando pelo telefone e que ele se referiu a Luiz como 'branquelo'. Aquilo chamou a minha atenção, mas senti tanta raiva no momento que sequer cheguei a pensar muito a respeito. Mas, agora, isso voltava a ser um ponto relevante, pelo motivo que expus:

O fruto do nosso amorOnde histórias criam vida. Descubra agora