Capítulo 7

390 68 6
                                    

• Maiara •

Eu devia estar há uns dez minutos ou mais me olhando no espelho, tentando identificar a pessoa que eu via refletida ali. Já fazia algum tempo desde que eu tinha adotado um visual mais básico composto por tênis, calça jeans, camiseta e as vezes moletom, geralmente em cores monocromáticas variando entre preto, cinza e branco.

Nem sempre eu tinha sido assim, mas já havia me acostumado a me ver constantemente naquele estilo básico e discreto. E era por isso que me surpreendia tanto me visualizar usando um vestido de festa, que ia até a altura do joelho e tinha uma cor viva, em um azul escuro e lindíssimo. Meus cabelos estavam com uma parte presa e o restante solto, caindo em cachos sobre meus ombros, e eu tinha feito uma maquiagem um pouco menos básica que o meu padrão. Nos pés, eu usava sapatos com salto, e eu nem sabia se ainda me lembrava como era andar sobre eles.

Precisava admitir que eu estava bonita. A ocasião era especial, no fim das contas. Aquele seria o primeiro baile colegial que eu iria. Era o baile de Fernando. Em alguns dias, aconteceria a sua cerimônia de formatura. E, em mais alguns dias, ele iria embora. E este último assunto era muito pouco mencionado entre nós naqueles últimos meses em que estávamos praticamente namorando. Nenhum de nós usava muito essa palavra, mas era o que éramos: namorados. Era assim que ele me apresentava aos amigos, já que agora a gente se encontrava mais vezes pelos corredores da escola, entre uma aula e outra.

Seguíamos passando os intervalos juntos, mas agora, além das músicas, compartilhávamos também beijos quentes e deliciosos. Ele continuava me levando para o trabalho, mas agora também me buscava todas as noites. E quase sempre entrava na minha casa, conversava por algum tempo com a minha mãe até que ela fosse dormir e, depois, ficava comigo até as dez horas, quando ia embora para que eu pudesse cuidar das medicações dela. Os dois se davam muito bem, aliás.

Ele, inclusive, insistia com ela que conseguiria na clínica que ela entrasse em licença médica, mas ela não queria. Dizia que trabalhar era algo que lhe fazia bem. Com insistência, ele a convenceu a aceitar uma redução de carga horária e conseguiu isso para ela. Claro que conseguiu. Ele era filho da dona, afinal.

Às vezes eu até me esquecia que Fernando era um herdeiro milionário, pertencente à família mais poderosa do Estado de São Paulo e, principalmente, filho da dona da rede de clínicas em que minha mãe trabalhava. Eu me esquecia porque Fernando nunca enfatizava essas coisas. Ele era um dos caras mais simples que eu já tinha conhecido.

Meu celular tocou sobre a cama e eu o atendi acionando o viva voz. Era Fernando. E eu confesso que em um primeiro momento tive medo de que ele fosse desmarcar comigo. Bem, estávamos juntos, ele me apresentava a todos como sua namorada, mas... o baile de formatura era um evento especial. Quem sabe ele não tivesse decidido que deveria ter alguma companhia que fosse socialmente mais à sua altura?

Contudo, logo na primeira frase dita por ele, eu já pude respirar aliviada, ciente de que este definitivamente não era o caso.

Fernando: Saí de casa agora há pouco, mas acho que vou demorar um pouco mais do que esperado para chegar aí. Tem muito trânsito.

Maiara: Venha com cuidado — pedi.

Fernando: Pode deixar. Mas você pode me fazer um pouco de companhia neste tempo, não é? Estamos andando a trinta por hora, Mai. Ou eu converso com alguém, ou durmo.

Maiara: Duvido que durma. É seu baile de formatura. Deve estar ansioso por isso.

Fernando: Estou mais ansioso porque estarei com você. Acho que não cheguei a mencionar, mas... sinceramente, antes de te convidar, a minha ideia original era nem ir.

O fruto do nosso amorOnde histórias criam vida. Descubra agora