Capítulo 25

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• Maiara •

A certeza de que ele havia me reconhecido foi deixada completamente de lado quando ele meramente voltou a caminhar, indo até o paciente e informando que iríamos iniciar o procedimento cirúrgico. Porém, logo ficou claro que houve, sim, o reconhecimento. Porque a forma como ele não voltou a olhar para mim nem uma mísera vez durante as horas em que durou a cirurgia deixou evidente para mim que ele me ignorava de propósito.

Ele provavelmente não queria que eu estivesse ali. Mas, ao mesmo tempo, deixava claro para mim que minha presença era tolerável a ponto de ele realizar com perfeição uma cirurgia tão complicada quanto aquela.

E a indiferença dele me doía mais do que a própria raiva.

***

Quando a cirurgia chegou ao fim, eu não voltei mais a vê-lo naquele dia. Minha colega Roze foi logo enviada para outro procedimento, por isso eu fiquei sem a companhia da minha informante que poderia me contar mais coisas a respeito de Fernando.

Aguardei até conseguir tirar o meu horário de almoço para fazer um telefonema. Sabia que Eduardo àquela hora estaria no trabalho, mas era urgente demais e eu precisava desesperadamente conversar com alguém.

Eduardo: Já com saudades, maninha? — ele brincou logo que atendeu.

E eu despejei tudo em um fôlego só:

Maiara: Ele está aqui.

Eduardo: O quê?

Maiara: Ele... está... aqui... — repeti de forma mais pausada.

Eduardo: Ele quem? O João?

Eu demorei alguns instantes para processar a pergunta dele, porque consegui o feito de esquecer completamente até mesmo do nome do meu último namorado.

Maiara: Não, Eduardo. O Fernando. Ele está aqui.

Eduardo: O quê? Fernando Zorzanello? O seu Fernando?

Ele não era mais meu, infelizmente. Mas claro que eu tinha compreendido a pergunta do meu irmão.

Maiara: É, ele mesmo. Ele é simplesmente o chefe do setor de Cardiologia daqui.

Eduardo: Como isso é possível? Ele não é, tipo, um ano mais velho que você? Tem certeza de que não se confundiu? O seu Fernando mal deve ter terminado a residência médica dele.

Talvez eu não tivesse, nos últimos anos, enfatizado suficientemente para Eduardo o fato de Fernando ser praticamente um gênio. Nossa diferença de idade, na realidade, era de poucos meses, mas ele ainda assim terminou o colégio um ano antes de mim. Não duvidava que ele tivesse conseguido se adiantar, também, na faculdade.

Maiara: É claro que não me confundi, Eduardo. Jamais confundiria o Fernando com qualquer outro cara. Ele estava de máscara e não vi o rosto dele por completo, mas reconheço os olhos dele em qualquer lugar. E, só para confirmar, o nome dele foi dito também.

Eduardo: E ele te viu?

Maiara: Viu. Eu não disse uma única palavra, mas ficou óbvio que ele me reconheceu, pela forma como me olhou... E como me ignorou em seguida.

Eduardo: Ele não foi para Harvard? Ele podia ter seguido de lá para qualquer hospital grande em qualquer outro lugar do mundo... E ele voltou justamente para São Paulo?

Maiara: Eu voltei também, não é? Sendo que jurei para mim mesma que jamais voltaria. Mas aqui estamos nós... Em outra cidade, mas dentro do mesmo estado... Nos encontrando novamente...

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