Capítulo 9

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• Maiara •

Faltando vinte minutos para as dez horas, minha mãe me mandou uma mensagem dizendo que estava acordada e avisando para que eu não me atrevesse a voltar naquele momento para casa. Ela me pareceu bem assustadora naquela ameaça. Mas logo aliviou o clima enviando um "Aproveite bem o seu baile" seguida por um emoji de coração.

Aquele não era o meu baile, embora a minha mãe agisse como se fosse. Ela tinha até mesmo chorado quando me viu usando aquele vestido, e tirou ainda fotos minhas antes que eu voltasse ao meu quarto para pegar o colar que tinha tirado para tomar banho e me esquecido de colocar de volta. E, depois disso, quando nos abraçamos em despedida, ela ainda sussurrou em meu ouvido que me amava e que estava orgulhosa de mim. Não era o meu baile. Ainda faltava um ano para eu terminar o ensino médio. E eu não queria sequer pensar no que estaria levando a minha mãe a agir como se não fosse me ver usando um vestido de festa como aquele em minha própria festa de formatura.

Fernando e eu estávamos já há algumas horas ouvindo música juntos, dançando, rindo e conversando do lado de fora do salão quando eu recebi a mensagem da minha mãe. Depois disso, poucos minutos se passaram até que fomos surpreendidos pelas gotas de chuva que começaram a cair sobre nós. Não seria prudente continuarmos ali, então tínhamos duas alternativas. Podíamos voltar para dentro do salão ou irmos para o carro.

Uma breve troca de olhares foi o suficiente para decidirmos em comum acordo o que faríamos. Corremos até o estacionamento e entramos no carro de Fernando, ambos rindo como se tivéssemos praticando alguma fuga ou qualquer coisa parecida.

Fernando: E agora? — ele me perguntou. — Acho que está meio cedo para eu te levar para casa, não é?

A ideia me encheu de tristeza. Porque eu definitivamente não queria, ainda, encerrar aquela noite.

Maiara: Não temos mais muitas opções, não é?

Fernando: Bem... Minha mãe está viajando, então minha casa está vazia. Podíamos ir para lá.

Revirei os olhos e brinquei:

Maiara: Para ouvirmos uns discos na sua vitrola?

Fernando: Bem, podemos fazer isso. Ou podemos fazer qualquer outra coisa que você queira.

Mal ele disse aquelas palavras e seu rosto pareceu tomado por arrependimento. E eu entendia os motivos disso. Há poucas horas, eu tinha contado a ele sobre os traumas provocados em mim por um ex-namorado que queria forçar a barra. Era claro que eu já confiava em Fernando o suficiente para sequer cogitar que ele fosse fazer o mesmo, mas, ainda assim, ele pareceu temer isso.

Fernando: Desculpe, Mai. Quis dizer que a gente pode, sim, ouvir música, ver um filme, fazer um lanche, ou apenas ficarmos conversando, o que você quiser fazer, de verdade.

Maiara: Eu sei, Fer. Não precisa se explicar para mim. E, quer saber? Acho a ideia bem legal.

Sorrimos um para o outro e, com tudo decidido, ele deu a partida no carro e seguiu para a sua casa. Ou melhor, a sua mansão. Que eu, assim como todo mundo que morava na cidade, já sabia que era uma coisa que destoava completamente até mesmo em meio ao bairro de classe alta onde se localizava. E eu tive ainda mais certeza disso quando entrei naquilo que, para mim, parecia um palácio.

Maiara: Moram só você e sua mãe aqui? — perguntei, enquanto adentrava a sala de estar com a minha mão entrelaçada à dele. Eu não queria deixar meu assombro tão evidente, mas simplesmente não conseguia parar de olhar para tudo ao meu redor.

Fernando: É, eu sei. Também acho meio exagerado. Em todos os lugares da Europa por onde passei, sempre dividi um apartamento pequeno com algum colega.

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