Capítulo 29

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• Fernando •

Filomena: Os Peixoto virão para o meu aniversário. E já confirmaram que a filha deles virá junto. Você precisa ver que joia preciosa é aquela menina, Fernando. Estudante de Medicina de Harvard, com as melhores notas, ela tem muito em comum com você.

Revirei os olhos ouvindo minha mãe pelo telefone através dos fones de ouvido. Estava chegando o dia do aniversário dela e, como de costume, ela sempre fazia uma enorme festa. E, da mesma maneira que ocorria todos os anos, ela começava a me ligar com frequência, já começando semanas antes, para insistir pela minha presença.

E, é claro, todos os anos ela tinha alguma 'moça maravilhosa' diferente para me apresentar. Enquanto falava com ela, estava diante de uma grande pilha de relatórios e documentos importantes. Tinha tirado aquele dia, em que não teria cirurgias, para me focar nos trabalhos burocráticos que a função de chefe da cardiologia exigia.

Fernando: Já disse que não sei se vou poder ir, mãe — respondi. — Uma das cirurgiãs entrou de licença há duas semanas, estou tendo que cobrir a maior parte das cirurgias dela.

Filomena: Pelo amor de Deus, Fernando, você não é o chefe daí? Pode repassar esse trabalho para outra pessoa.

Fernando: Ser o chefe implica, também, em dar o exemplo.

Filomena: Eu realmente não entendo essa sua opção em trabalhar de forma fixa em um hospital. Você é dono de uma das maiores redes de clínicas do país.

Fernando: Já conversamos sobre isso outras vezes, e eu realmente não quero voltar a este assunto agora.

Filomena: Bem, de qualquer maneira, quando você me dará a confirmação sobre sua presença no meu aniversário? A filha dos Peixoto está ansiosa para te conhecer.

Fernando: Sou eu que tenho uma pergunta, mãe. Quando você vai parar de tentar encontrar um romance para mim? Logo você, que passou toda a minha adolescência enchendo a minha cabeça dizendo que eu deveria focar nos estudos e na carreira.

Filomena: Você já é um adulto agora. Está no momento de começar a pensar em se casar, em ter filhos.

Fernando: Não tenho nenhum interesse em nenhuma das duas coisas.

Filomena: Sei que você ainda é muito jovem, filho. Por isso entendo que não queira ser pai agora. Mas é algo para já começar a planejar. Precisa passar adiante o nosso sobrenome, o legado da nossa família.

Fernando: Sabe do que eu preciso, mãe? De um pouco de paz para trabalhar. Se não se importa, nos falamos outra hora.

Filomena: Por que tem que ser tão grosso comigo, Fernando?

Fernando: Não foi uma grosseria, mãe. Apenas um pedido.

Um pedido para que ela parasse de encher a porra do meu saco!

Filomena: Tudo bem... Nos falamos mais tarde.

Ela enfim encerrou a ligação e eu pude voltar a me focar em meu trabalho. Ou, ao menos, a tentar fazer isso. Minha relação com a minha mãe continuava sendo tão conturbada quanto sempre foi, e seguíamos nos falando a cada ano com menos frequência.

A época do aniversário dela costumava ser a que ela mais me ligava, sempre enchendo minha paciência com aquela história de me apresentar a alguém. Eu estava completamente fechado à ideia de relacionamentos. De qualquer tipo, aliás. Tinha bons colegas, contatos profissionais, mas não amigos. E, com relação a mulheres, tudo o que me despertava interesse eram relacionamentos casuais, noites de sexo sem compromisso, nada que pudesse sequer parecer seguir por um caminho sério.

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