Capítulo 14

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• Maiara •

Conferi tudo mais uma vez, enquanto colocava cada item com cuidado dentro de uma cesta. Uma caixinha com um pequeno presente, velas, um isqueiro, latas de refrigerante, uma garrafinha térmica com chocolate quente, copos, guardanapos, pacotinhos de snacks – amendoins eram os favoritos de Fernando – biscoitos e uma caixa com um pequeno bolo.
Minha mãe fez questão de preparar, mesmo eu tendo dito que poderia comprar um já pronto. Mas ela dizia que nada substituía um bom bolo caseiro, feito com carinho, e que aquele seria o seu presente para Fernando, já que não tivera tempo para lhe comprar nada.

Coloquei uma toalha de mesa por cima dos alimentos e ainda precisei fazer alguns ajustes para conseguir fechar a cesta. Estava tudo pronto. Eu também já estava, de volta ao meu visual de costume, com uma calça jeans, uma camiseta com a estampa de uma foto da Whitney Houston e, por cima, o casaco de moletom com os dizeres "O Jazz Não Está Morto", que eu tinha ganhado de presente de Fernando meses antes.

Almira: Tudo pronto, filha? — minha mãe perguntou, chegando à cozinha neste momento.

Ela também estava pronta para sair, mas eu não estava feliz com os motivos disso. A clínica onde ela trabalhava tinha passado a realizar atendimento vinte e quatro horas, então todos os horários dos profissionais foram alterados. E, mesmo com a redução de carga horária, minha mãe tinha sido designada a cumprir alguns turnos noturnos por semana. Aquele era o seu primeiro dia naquele novo esquema. Movimentei a cabeça em uma afirmação, devolvendo a pergunta:

Maiara: E você, mãe? Está levando todos os remédios? É um absurdo terem te colocado neste horário.

Almira: Minha carga semanal não foi aumentada, querida. Vai compensar por poder passar os próximos dias em casa.

Maiara: Não é a mesma coisa. Tantas horas direto, especialmente no turno da noite, será cansativo demais, mãe.

Almira: Não se preocupe com isso, filha. E, sim, estou levando todos os remédios. Tudo ficará sob controle. Eu apenas não gosto da ideia de você passar a noite sozinha. Por que não me passa o telefone da mãe do Fernando? Posso ligar para ela e pedir para você passar a noite lá.

Maiara: Como se eu tivesse cinco anos de idade, mãe? — rebati, rindo.

Eu não queria entrar na questão de que nem eu mesma tinha os contatos da mãe do Fernando. E não achava que ela tivesse qualquer interesse em conversar com a minha mãe.

Almira: Não quero que você fique sozinha à noite, filha. Enquanto estiver com Fernando, sei que estará segura, mas e depois?

Maiara: Ele vai me deixar em casa. Vou trancar bem a porta e sei me cuidar, prometo.

Almira: Tudo bem. Preciso ir, ou chegarei atrasada. Me mande uma mensagem quando chegar, tá?

Ela se aproximou, dando um beijo rápido no meu rosto. Sentindo algo estranho, eu a segurei e levei uma das mãos à sua testa, confirmando que ela parecia um pouco mais quente que o normal.

Maiara: Mãe... Está com febre?

Almira: Febre? Não, Mai. Eu estou ótima.

Prestei mais atenção ao rosto dela. Ela vinha se mostrando a cada dia mais abatida e cansada, mas naquele momento, parecia ainda um pouco mais do que de costume.

Maiara: Você está quente, mãe.

Almira: É que acabei de tomar um banho, e sabe como gosto de colocar a temperatura da água bem alta.

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