Capítulo 16

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• Maiara •

Tinha chegado o dia de Fernando viajar para Massachussetts e eu confesso que sentia uma leve tensão por isso. Era bem bobo da minha parte, eu sabia bem disso. Mas, desde que nos conhecemos e nos tornamos amigos, aquela era a primeira vez que passaríamos dias sem nos vermos. E seriam apenas três dias, o quão idiota eu era para ficar triste com isso? O bom é que já seria um teste para quando ele fosse para a faculdade e passássemos a nos encontrar apenas em finais de semana e feriados.

Ele tinha passado na minha casa pela manhã. Despediu-se da minha mãe e me deu carona até a lanchonete, onde também nos despedimos. Era uma viagem longa e cansativa, então fiz a ele mil pedidos para que ele tivesse cuidado e para que me mandasse mensagens para que eu soubesse que estava bem. E já estava quase na hora do almoço quando recebi a primeira delas.

Fernando: Como está tudo por aí?

Maiara: Já atendi três clientes mal educados hoje. Acho que é o meu recorde em um espaço tão curto de tempo.

Fernando: Ao mesmo tempo, nada de novo, não é? Em alguns anos, estaremos os dois trabalhando juntos em algum grande hospital.

Maiara: Não vejo a hora. Se cuida na viagem, viu?

Fernando: Pode deixar. E você, respira fundo para lidar com essa gente chata. É só uma fase. Te amo.

Maiara: Também te amo.

Fiquei olhando para o celular, feito uma boba, ainda por algum tempo, até que me passaram mais um pedido que eu precisaria entregar em uma mesa. Era apenas uma garrafinha de água com gás.

Peguei a bandeja e fui até a mesa de número oito. Quando cheguei lá, no entanto, foi uma surpresa encontrar um rosto conhecido.

Filomena: Oi, Maiara — ela falou, tirando os óculos escuros e revelando seus olhos, dizimando assim qualquer dúvida que eu tinha de que era mesmo ela.

Maiara: Senhora Zorzanello? — perguntei, confusa.

Aquele definitivamente não era o tipo de estabelecimento que uma mulher como aquela deveria frequentar.

Filomena: Tem um momento em que eu possa conversar com você?

Peguei meu celular no bolso do avental, checando as horas.

Maiara: Faltam vinte minutos para o meu horário de almoço. É o único momento que terei livre.

Filomena: Tudo bem. Posso esperar. — Ela pegou a garrafa, calmamente abrindo-a e enchendo o copo. — Se puder, por favor, não contar ao meu filho que eu estou aqui, eu agradeço. Até porque, nesse momento ele está viajando. Não é muito apropriado distraí-lo.

Perguntei-me se ela teria me observando trocando mensagens com Fernando atrás do balcão até poucos segundos antes. Ela não teria como saber que era com ele que eu estava falando, mas devia ter deduzido. Por fim, apenas assenti e me afastei, indo atender outras mesas.

Pelos vinte minutos seguintes ela continuou ali, bebendo devagar sua água e me observando como quem me analisasse minunciosamente. Eu não fazia ideia de o que ela poderia querer conversar comigo, mas algo dentro de mim me alertava que não devia ser algo bom.

Quando enfim fui liberada para o almoço, voltei até Filomena Zorzanello e ela pediu para que eu a acompanhasse até o seu carro, que estava no estacionamento. Assim o fiz. Um motorista esperava do lado de fora do veículo e abriu a porta de trás para que nós duas entrássemos.

Por um momento, me senti como em um filme de máfia. Só esperava que Filomena não tivesse planos de me matar e desaparecer com o meu corpo. Pelo jeito frio daquela mulher, acho que esta nem era uma possibilidade que eu pudesse descartar.

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