Capítulo 32

537 75 21
                                    

• Maiara •

Eduardo: Você fez o quê?

Sabia que Eduardo tinha me ouvido e entendido muito bem. Revirei os olhos, enquanto continuava a dobrar minhas peças de roupa e colocá-las na mala aberta sobre a minha cama, e enquanto conversava com ele pelo viva-voz.

Maiara: Vou passar uns dias com vocês. Talvez umas semanas ou quem sabe até mesmo uns meses.

Eduardo: Você pediu demissão, Maiara? Enlouqueceu?

Maiara: Ah, então você ouviu o que eu disse, né? Qual a necessidade de me fazer repetir para que eu sinta e me torture com o peso da minha decisão?

Eduardo: Porque é mesmo para você sentir. E entender por que isso foi uma idiotice da sua parte.

Maiara: Olha, eu achei que conseguiria lidar bem com o fato de Fernando estar trabalhando no mesmo ambiente que eu, mas não posso. Especialmente depois que ele viu a Bettina ontem e deduziu certeiramente que ela é sua filha, embora ele nem mesmo seja capaz de pronunciar essa palavra.

Eduardo: E o que vai fazer da sua vida agora?

Maiara: Marco disse que se alguma coisa desse errado eu poderia voltar, não é?

Eduardo: Você já contou para ele?

Maiara: Contei para a Ana, e ela obviamente vai contar para ele, é sempre assim que funciona. Não dei maiores detalhes, disse que explico melhor quando chegar aí.

Eduardo: E com o que você vai trabalhar, agora que perdeu um emprego dos seus sonhos?

Maiara: Procurar por outro emprego dos meus sonhos. Existem muitos hospitais no Brasil. Pensei que posso mandar currículos para outros estados. No Rio de Janeiro, por exemplo, um lugar com praias... Acho que a Nina vai amar.

Eduardo: Você não está pensando direito. Está agindo na impulsividade.

Maiara: Falou o tio que inspirou a minha filha a dar um chute na canela do coleguinha que a chamou de chata.

Eduardo: Eu nunca inspirei a Nina a... Espera, ela fez o quê? ...Tá, calma, isso não vem ao caso. Não agora. Respira, pensa mais um pouco, volta lá para o hospital e pede o seu emprego de volta antes que outra pessoa pegue a sua vaga.

Maiara: Eu devo sair pela manhã e chegar já à noite, Eduardo. Então te vejo amanhã, tá?

Eduardo: Espera, Maiara, não desliga.

Maiara: Preciso colocar meu celular para carregar, tchauzinho, maninho.

Eduardo: Maiara, não desl...

Antes que ele completasse a frase eu encerrei a ligação, colocando o celular na tomada para carregá-lo. Ainda tinha muito o que arrumar.

Esperei que Nina fosse dormir para só então começar a fazer as malas, porque conhecia minha filha o suficiente para saber que, caso já contasse a ela que iríamos voltar para a casa dos seus avós, ela ficaria tão ansiosa que demoraria muito a pegar no sono.

Já sabendo que iria até bem tarde para conseguir organizar tudo, tinha pedido um lanche por delivery e, quando a campainha tocou, achei que fosse o entregador trazendo o meu pedido. Corri descalça até a sala e abri a porta sem antes olhar no olho mágico ou perguntar quem era. E por isso foi uma enorme surpresa me deparar com nada menos do que Fernando Zorzanello, parado bem na minha porta.

Fernando: A gente precisa conversar, Maiara.

Nós dois parecíamos ter alguma adoração por aquela frase. E era irônico que, sempre que um de nós a usava, era quando o outro definitivamente não queria conversa alguma. Exatamente como eu naquele momento.

O fruto do nosso amorOnde histórias criam vida. Descubra agora