Capítulo 20

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• Fernando •

Em toda a minha vida, cada uma das vezes em que imaginava meu futuro em Harvard, os pensamentos eram sempre que aquele momento seria intenso e feliz. E, bem... estava sendo o mais completo oposto disso.

Já fazia três semanas que as aulas tinham começado, e tudo para mim se alternava entre a tristeza e o tédio. Sem qualquer falsa modéstia, eu sabia que não teria dificuldades nos estudos. Meus planos, inclusive, eram o de terminar a graduação em menos tempo do que o padrão, e eu sabia que tinha potencial para isso.

Queria acelerar aquele processo o tanto quanto fosse possível, para iniciar logo meu período de residência em algum hospital renomado. Assim como meu pai tinha se tornado o neurocirurgião mais famoso do país antes de chegar aos trinta anos de idade, eu pretendia seguir os mesmos passos, ainda mais rápido – e na área da cardiologia.

Por conta de todas as minhas ambições e de todo o conhecimento que eu já havia adquirido, eu considerava meus colegas de turma extremamente imaturos e desinteressantes. E ali, ao contrário do ensino médio, eu não via qualquer necessidade de tentar ser simpático com ninguém para manter um nível de popularidade que tornasse as coisas mais simples para mim.

A verdade é que a vida real está muito longe de ser um espelho dos anos de escola. Ninguém se importa se você é o nerd, o atleta, o popular ou o antissocial. Ninguém liga para com quantas pessoas você ficou ou quantos amigos você tem, se você se senta no almoço sozinho ou cercado por um monte de gente.

Na vida real, sua maior competitividade é contra si mesmo. E era por isso que eu me focava tanto nos estudos. Tanto, a ponto de aproveitar cada intervalo e tempo vago para ler artigos e livros técnicos. Era o que eu fazia naquele momento. Como de costume, sozinho.

Costumava me sentar sobre o gramado, sob a sombra de uma árvore. Usava fones nos ouvidos, pelos quais ouvia músicas. Às vezes, no entanto, precisava pular algumas, por fazerem com que eu lembrasse de Maiara. Uma forma de tentar superar tudo era me esforçar ao máximo para não pensar nela. E aquela era uma tarefa que parecia impossível.

XX: Fernando Zorzanello? — uma voz feminina chegou aos meus ouvidos, chamando a minha atenção.

Levantei a cabeça, vendo uma garota se aproximar. O rosto dela me pareceu familiar e eu logo me lembrei de onde a conhecia: tinha sido minha colega de turma no último ano do ensino médio.

Fernando: Ah... oi... — eu a cumprimentei, mal conseguindo fingir alguma animação.

Se eu pudesse, jamais voltaria a colocar os pés em minha antiga cidade. Queria ser capaz de enterrar em minha mente todo o meu passado. Em especial o meu último ano.

XX: Que bom encontrar um rosto conhecido por aqui — ela comemorou, parando diante de mim. — Cheguei ontem, consegui uma vaga na reclassificação. Dei uma sorte e tanto de alguém ter desistido para eu conseguir entrar. Sério, quem é louco o suficiente para conseguir uma vaga em Harvard e abrir mão dela?

Eu tive a intenção de ser um desses loucos. Por muito pouco não fui.

Fernando: É. Bem, seja bem vinda... — fiz uma pausa, tentando me lembrar do nome dela.

Giovana: Giovana — ela relembrou.

Fernando: Isso. Giovana. Bem-vinda.

Giovana: Obrigada. Então, também farei Medicina. Acabei de pegar minha grade de aulas. Posso ver a sua? Para saber se faremos alguma disciplina juntos?

Fernando: Claro.

Abri o bolso menor da minha mochila, onde tinha guardado o papel com a minha grade de disciplinas e horários. Minha mão tocou em um objeto cilíndrico e eu o olhei, avistando a caneta que Maiara tinha me dado de presente. Eu não sabia por que diabos eu não tinha jogado aquilo fora. Eu quase não a usava, mas a mantinha constantemente dentro da minha mochila, como uma porra de um amuleto de muito mau gosto.

O fruto do nosso amorOnde histórias criam vida. Descubra agora