• Maiara •
Oito dias se passaram desde aquele encontro no elevador.
Oito longos dias.
Não que eu estivesse contando, claro.
O fato de eu não ter voltado a esbarrar com Fernando por ali era um indício de que poderíamos seguir trabalhando no mesmo local sem que a presença um do outro se tornasse um incômodo. Porque aquele hospital era grande o suficiente para garantir que os encontros por ali não seriam tão comuns assim.
Eu deveria ficar feliz com isso. Especialmente depois da forma como ele me ignorara completamente uma semana antes. Para ser exata, oito dias antes. Talvez eu estivesse mesmo contando, afinal. Eu não tinha muito do que reclamar.
O setor de pediatria era um lugar bom para se trabalhar. Podia parecer um absurdo declarar isso, mas as crianças eram muito mais fáceis de se lidar do que os adultos. Elas choravam quando sentiam dor e demonstravam quando estavam com medo de algum procedimento. Em resumo: eram sinceras em seus sentimentos. Elas não mentiam, não fingiam... e, por mais que algumas fossem mais pirracentas ou teimosas, ainda assim eram incrivelmente mais agradáveis do que muitos adultos mal-educados que às vezes chegavam no Pronto Socorro.
Sem contar que a pediatria era, também, segura para mim. As crianças com problemas cardíacos eram encaminhadas para o andar da cardiologia, o que significava que Fernando nunca passava por ali. Bem... talvez ele passasse pelas escadas, quando chegava ou ia embora em algum horário parecido com o meu. Porque eu não duvidava que ele tivesse passado a evitar o elevador apenas para não correr o risco de se encontrar novamente comigo.
Bem... Dizem que subir e descer escadas é um bom exercício para manter o coração saudável. Fernando, então, estava dando um bom exemplo como Cardiologista. Não que eu me importasse com a saúde física do coração dele. Afinal, ele não tinha demonstrado a mínima sensibilidade à saúde emocional do meu.
XX: Vai doer, doutora? — perguntou um garotinho de cinco anos que eu preparava para fazer uma coleta de sangue para exames.
Maiara: Vai incomodar um pouquinho. Mas bem pouquinho mesmo, como se fosse um mosquito chato te picando. Mas se você não olhar, talvez nem dê para sentir.
XX: Eu não consigo não olhar... — ele choramingou, olhando fixamente para o braço.
Maiara: Claro que consegue. É só olhar para mim. Me conta, qual é o seu nome?
Eu já sabia. Ainda assim, fiquei feliz quando ele olhou para o meu rosto para responder:
Miguel: Miguel.
Maiara: Nossa, é um nome lindo! Então, hoje você não foi para a escola, Miguel?
Miguel: Eu tava vomitando muito, aí a mamãe me trouxe pra cá. Eu vomitei muito. Sujei minha roupa toda, e até o Charlie.
Maiara: E quem é o Charlie?
Miguel: É meu ursinho de pelúcia.
Sorri, notando que ele nem percebeu que eu já tinha encontrado a veia dele e já começava a coleta.
Maiara: E o Charlie é o seu bichinho de pelúcia favorito?
Miguel: Ele é. É o mais legal de todos.
Maiara: Minha filha também tem um bichinho favorito. Mas, no caso dela, é uma girafa de pelúcia chamada Amy.
Miguel: Uma girafa? Que engraçado.
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O fruto do nosso amor
FanfictionEles se apaixonaram na adolescência. Mas um reencontro, anos depois, revelou que o médico milionário era pai. Fernando e Maiara se conheceram no ensino médio. Ele era o garoto milionário da cidade, o popular que já estava cansado de toda a bajulaç...