Capítulo 31

536 84 32
                                    

• Fernando •

Depois de conseguir estabilizar minha paciente, fui atrás de Maiara. Eu tinha ouvido ela dizer a Nina para que subisse para o andar de cima, o que me fez deduzir que ela devia estar alocada no andar da Pediatria. Contudo, ela não estava lá.

Perguntei à chefe de enfermagem, que me informou que a enfermeira Maiara tinha pedido para ser liberada mais cedo, alegando uma emergência. Fugir de mim tinha sido a emergência. E, agora, eu tinha uma emergência também, que era descobrir o que havia realmente acontecido oito anos antes.

Aproveitando que já estava no horário de outro cardiologista assumir o plantão, fui embora. Quando cheguei ao estacionamento e peguei o meu carro, no entanto, não foi para o meu apartamento que segui. Ao invés disso, peguei a estrada, pronto para fazer uma viagem de até a cidade onde eu tinha morado antes de ir para a faculdade.

A cidade onde minha mãe ainda morava.

Eu estava saindo de um plantão longo, há muitas horas sem dormir, mas, de repente, não sentia mais qualquer cansaço físico ou sono. A carga emocional da breve conversa tida com Maiara parecia exercer o poder de uma dosagem pesada de drogas estimulantes na minha circulação sanguínea.

E eu não teria paz enquanto não esclarecesse tudo aquilo. E, dependendo do que eu fosse descobrir, certamente nem assim encontraria calmaria para a minha alma.

Foram quase duas horas de viagem e, quando cheguei, o sol já havia se posto. Ainda assim, sabia exatamente em qual cômodo da casa encontraria a minha mãe. E não deu outra. Quando abri a porta de seu escritório, a avistei sentada atrás da grande mesa de mogno, trabalhando no computador.

Filomena: Fernando! — ela exclamou, demonstrando surpresa ao me ver. — Meu aniversário é só daqui a três semanas. por que você se adiantou tanto?

Ela se levantou e veio em minha direção, recebendo-me com o abraço frio e impessoal que já lhe era característico. Não lhe dei tempo para mais perguntas e a afastei de mim, começando a falar: —

Fernando: Há oito anos, você me mostrou fotos da Maiara com outro garoto.

Filomena: Fotos de quem? — ela indagou, me interrompendo.

Fernando: Maiara, mãe. Minha namorada do ensino médio.

Filomena: Meu Deus, Fernando. Por que isso agora? — Ela voltou a caminhar até a sua cadeira, onde se sentou. — Eu nem me lembrava mais daquela garota

Fernando: Você me mostrou fotos dela, disse que ela estava me traindo.

Filomena: Estava claro naquelas fotos, não?

Fernando: Não. As fotos mostravam apenas um abraço. Um inocente abraço. Mas, pelo modo como você falou, era como se aquilo fosse tudo o que tinha conseguido registrar, mas que estava certa na acusação que fez.

Filomena: Repito, Fernando: por que isso agora, do nada, tanto tempo depois?

Ela tentou fingir desinteresse, mas levantou os olhos em minha direção quando eu declarei:

Fernando: Eu reencontrei a Maiara.

Filomena: Sério?

Fernando: É... sério.

Filomena: Tanto tempo depois, por que isso deveria ser relevante?

Fernando: Eu a amava, mãe. Você sabia disso.

Filomena: Você era um garoto, Fernando. Agora é um homem. Ainda não superou isso?

Fernando: Mentiu sobre as fotos... e sobre o que mais?

O fruto do nosso amorOnde histórias criam vida. Descubra agora