Capítulo 35

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• Maiara •

Bettina estava especialmente eufórica naquele domingo, embora eu tivesse dito a ela que faríamos apenas um passeio por um parque. Comentei sobre nos encontrarmos com um 'amigo da mamãe', sem dar muitos detalhes a respeito. Foi o suficiente para fazê-la acordar cedo – antes mesmo de mim – e se animar em escolher uma roupa bem bonita, além de fazer questão de levar sua girafa Amy e seu urso Max – que agora era o seu segundo brinquedo favorito da vida.

Eu tinha combinado com Fernando que nos encontraríamos lá às dez da manhã. E, embora Nina e eu tivéssemos chegado com vinte minutos de antecedência – muito mais pela pressa de Nina do que por mim – ele já estava lá, sentado em um banco, e segurando em mãos uma caixa grande, embrulhada para presente. Ele se levantou logo que nos viu e Nina correu de encontro a ele, vibrando.

Bettina: Tio Fernando! É você o amigo da mamãe?

Ele me olhou, confuso, e eu balancei a cabeça para ele em uma afirmativa, fazendo com que ele voltasse a olhar para Nina e respondesse:

Fernando: É... eu sou o amigo da mamãe.

Bettina: Que legal! Eu sabia que vocês deviam ser amigos. Vocês gostam das mesmas músicas. ...Olha, mamãe, eu posso ir naquele balanço?

Ela apontou para um playground do parque e eu concordei.

Maiara: Claro, filha. Pode ir. Mas estou aqui de olho em você, hein? Nada de ir para outro lugar.

Ela concordou e correu até o balanço, onde se sentou, começando a se balançar. Ficava bem próximo, mas distante o suficiente para que Fernando e eu pudéssemos conversar com a voz baixa sem que ela ouvisse.

Fernando: 'Amigo da mamãe'? — ele indagou.

Maiara: O que você esperava? Que eu dissesse: 'venha, Bettina, vamos hoje sair para você conhecer o seu progenitor! Ele esteve sumido por todos esses anos, mas agora voltou e quer te ver'.

Fernando: Não foi exatamente assim que aconteceu.

Maiara: Então se lembre de como foi e pense em como eu contaria isso de forma simples para uma criança de sete anos.

Ele suspirou, provavelmente percebendo que eu tinha razão.

Fernando: É, não é uma coisa tão simples assim. Mas não podemos ficar mentindo para ela com isso de 'amigo da mamãe'.

Maiara: Bem.... nós já fomos amigos antes.

Fernando: Você era a minha melhor amiga, Maiara. A melhor que tive em todas as fases da minha vida.

A declaração foi tão sincera que trouxe uma forte dor ao meu peito. Esse tinha sido justamente o fator que fez todo o rompimento entre nós ter sido tão doloroso: porque Fernando era muito mais do que um namorado. Era muito mais do que meu primeiro amor. Ele era o cara que eu amava e meu melhor amigo. Agora, eu me perguntava o que nós éramos, exatamente. Não sabia se podíamos dizer que ainda éramos amigos, nem mesmo se voltaríamos a ser. Mas eu estava certa de que ele ainda era e sempre seria o amor da minha vida.

Fernando: Vamos contar juntos para ela? — Fernando perguntou.

Movimentei a cabeça em uma afirmação. Olhei para a caixa que ele continuava segurando e comentei:

Maiara: Inteligente da sua parte trazer um presente.

Fernando: Na verdade, não foi pensando em facilitar as coisas para mim. Foi só porque... eu acho que é uma coisa que ela vai gostar. Mas, agora que você comentou, eu não sei se entrego a ela antes ou depois da conversa.

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