Capítulo 39

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• Maiara •

Filomena: A gente pode ter uma conversa?

Ouvir a voz daquela mulher perguntando aquilo causou uma dor em meu estômago, como se eu tivesse acabado de levar um soco ou estivesse prestes a vomitar. E ficou ainda pior quando, assim como da outra vez, ela apontou para o seu maldito carro de luxo parado em uma vaga em frente ao hospital.

Maiara: Não pretendo voltar a entrar em um carro com você. E creio que não temos nada o que conversar — respondi, de forma seca e direta.

Filomena: Acho que você sabe que não vou desistir enquanto você não ouvir o que tenho a dizer, não é?

Maiara: E eu acho que você também sabe que não tem nada mais com o que me chantagear. Vá para o inferno e me deixe em paz.

Virei-me, começando a caminhar pela calçada na intenção de ir até o colégio buscar a minha filha. Faltavam ainda vinte minutos para a saída dela.

Filomena: Tem certeza? — a megera voltou a falar, em um tom ameaçador que eu, infelizmente, já conhecia bem. — Acho que talvez eu tenha alguma coisa, sim. Sempre que se ama alguém, existe algo precioso que você possa perder.

Voltei a me virar de frente para ela, compreendendo perfeitamente ao que ela se referia. Depois de ameaçar a minha mãe, aquele monstro teria coragem de sequer insinuar tentar qualquer coisa contra a minha filha?

Filomena: Apenas uma conversa, Maiara — Ela ergueu as duas mãos, como em uma falsa sinalização de paz. — Não vai durar mais do que dez minutos.

Deixei algumas condições:

Maiara: Em um local público. Não vou entrar novamente em um carro com você. E tenha em mente que você não está mais em uma situação de poder por aqui. Se insinuar tentar qualquer coisa contra mim ou contra qualquer pessoa que eu ame, eu vou até a polícia, até a imprensa... até o inferno para te impedir, se for preciso.

Filomena: Fique tranquila. Sem ameaças.

Eu não tinha qualquer razão para confiar naquela mulher, mas cedi porque acreditava que, se eu a deixasse dizer tudo o que queria, ela poderia depois enfim me deixar em paz.

Guiei-a até o Jazz Bar, que ficava logo adiante, do lado oposto da rua, e nos sentamos em uma mesa próxima à porta. Não haveria música ao vivo naquele dia, então havia apenas o som ambiente de alguma playlist de Jazz instrumental.

Filomena: Serei direta, Maiara — Filomena começou a falar logo que nos sentamos. — Todo mundo tem um preço. Me diga qual é o seu, que pagarei o que quiser para desaparecer definitivamente da vida do meu filho, levando junto a criança que você afirma ser filha dele.

Aquilo não me surpreendia. Ela tinha dito que não faria ameaças, mas não mencionou nada a respeito de suborno.

Maiara: Pode ser que você fique surpresa com isso, senhora Zorzanello, mas está enganada. Nem todo mundo tem um preço.

Filomena: É claro que tem. Você podia discordar disso quando mais jovem, mas agora sabe o quanto estou certa. Você é mãe e, quando se tem um filho, sempre queremos poder dar todo o melhor para ele.

Maiara: Acho bem ofensivo que você compare a sua maternidade com a minha, senhora Zorzanello. Quero, sim, o melhor para a minha filha. Mas isso não se limita a bens materiais. Eu definitivamente não sou como você.

Filomena: Claro. Provavelmente Fernando tem hoje muito mais dinheiro do que você poderia sonhar ter na vida. Mas não pense que vou permitir que ele dê o sobrenome da nossa família a uma bastarda.

Eu vinha me esforçando ao máximo para me mostrar calma, mas a forma como aquela mulher mencionava a minha filha me fazia sentir um desejo insano de voar no pescoço dela.

Maiara: Era só isso o que queria? — perguntei. — Se for, a resposta está clara: não, eu não quero um centavo do seu dinheiro. Quando você me procurou há oito anos, eu te disse que a decisão de ir ou não para Harvard cabia inteiramente a Fernando. E repito o mesmo desta vez: a decisão de reconhecer ou não Bettina também cabe apenas a ele. Quero que minha filha tenha um pai, mas pouco me importo com sobrenomes ou fortunas. Minha filha já tem tudo o que precisa.

Filomena: Faça-me o favor! Pare com esse fingimento ridículo. Você não passa de uma cobra manipuladora. Tentou manipular meu filho no passado, ia fazê-lo desistir da faculdade dos sonhos dele. Chegou a ponto de convencê-lo do absurdo de fazer um teste de compatibilidade para doar um rim para a sua mãe. Como se eu fosse permitir que ele se submetesse a uma cirurgia como esta.

Aquela informação era completamente nova para mim.

Maiara: O Fernando fez o quê?

Não parecendo perceber minha confusão, ela apenas continuou a falar, a cada instante mais descontrolada:

Filomena: Eu achava que tinha me livrado de você. E, de repente, você volta tentando enganá-lo com uma criança que, caso seja mesmo dele, foi provavelmente concebida de propósito para ser usada no momento oportuno, não é? Você o fez cortar relações comigo, que sou a mãe dele. Você encheu tanto a cabeça dele que o fez vender a parte dele nos negócios da família. Agora tenho totais estranhos como sócios em uma rede de clínicas que pertencia à nossa família.

Maiara: Eu não fiz nada, senhora Zorzanello. Na verdade, foi você mesma que fez isso.

Filomena: O que quer dizer com isso, sua petulante?

Maiara: Que você nunca teve uma relação de mãe e filho com o Fernando. Para você, ele é apenas um herdeiro, um troféu que você quer exibir. Queria que ele vivesse a vida dele da forma como você quer.

Filomena: Da forma como um Zorzanello merece viver.

Maiara: Ele é um ser humano. Ele é mais do que um mero representante de um sobrenome.

Filomena: Diga de uma vez por todas quanto você quer para sair de vez das nossas vidas.

Maiara: Já disse que eu não estou à venda. Nem eu, nem o futuro da minha filha. Não suporto mais ter que olhar para a sua cara, então, faça-me o favor de nunca mais me procurar.

Dito isso, eu me levantei e segui para a saída. Ainda ouvi aquela louca gritar o meu nome, seguido por uma série de insultos, e apenas a ignorei, seguindo o meu caminho.

Desejava intensamente nunca mais voltar a encontrá-la.

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