Capítulo 27

467 72 39
                                    

• Maiara •

Maiara: O que é que eu sempre digo a você, Bettina?

Bettina: Que eu preciso comer as cenouras porque são boas para os meus olhos?

Maiara: Não, a outra coisa.

Bettina: Que eu não devo me impor na escola?

Maiara: A outra coisa, Bettina?

Bettina: Que não posso subir nos móveis? Que não posso pular nas poças de lama quando tô indo pra escola? Que não posso tomar sorvete antes do jantar?

Maiara: Não, Bettina. Sobre as coisas que você fez hoje.

Ela suspirou, vencida. Ela sabia muito bem ao que eu me referia.

Bettina: Não posso sair de perto de você e sumir, porque você fica preocupada com medo de alguém ter me levado embora.

Maiara: E o que mais?

Bettina: Que não posso conversar com estranhos.

Maiara: Então por que você fez essas duas coisas?

Bettina: Eu não sumi, mamãe. Eu só fui pra perto do palco, pra ouvir melhor a música. E aquele moço não era estranho. Ele era bem legal.

Maiara: Sequestradores de crianças também parecem ser legais, Nina. A maioria das pessoas malvadas do mundo também parecem ser legais, mas não são.

Ela baixou a cabeça, parecendo prestes a chorar, e eu me senti culpada por ter elevado meu tom de voz daquele jeito.

Já estávamos em casa. Acabamos nem comendo as batatas fritas, já que quando a vi ao lado de Fernando, tudo o que quis foi tirar Nina daquele lugar.

Tinha sido um choque duplo para mim. Primeiro, quando Nina sumiu, eu passei pelos breves minutos mais longos e desesperadores da minha vida, enquanto a procurava por aquele bar e cogitava em minha mente as mais horrorosas das possibilidades. Entrei em pânico por achar que alguém mal-intencionado podia ter levado a minha garotinha.

Então, eu a avistei e senti um enorme alívio. Mas este sentimento foi logo substituído por algo inexplicável quando avistei Fernando ao seu lado.

Lembrava-me muito bem das palavras que ele tinha me dito quando liguei para contar que estava grávida. Eu não suportaria que ele encontrasse Nina e questionasse diante dela sobre ela ser sua filha, ou, pior, que levantasse a possibilidade de eu ter ido até ali para tentar enganá-lo, para dar um golpe ou qualquer coisa desse tipo.

Eu poderia até mesmo suportar que ele fizesse tais acusações a mim, mas não na presença de Nina. Fernando já havia dilacerado o meu coração, eu não iria permitir que ele fizesse o mesmo com a minha filha.

Nina estava, agora, sentada em sua cama, já usando seu pijama, de banho tomado, já tinha jantado, escovado os dentes e estava pronta para dormir. Só depois disso que decidi ter aquela conversa com ela, porque precisava daquelas primeiras horas para me acalmar. Eu estava abaixada no chão, de frente para ela.

Maiara: Ouça, Nina... o que você fez hoje foi muito perigoso. Você não pode sair de perto de mim daquele jeito.

Bettina: Mas eu estava perto, mamãe. Estava bem perto, só fui ver melhor o palco.

Maiara: Estava perto, mas longe o suficiente para que, de onde eu estava, não conseguisse ver você. E eu entrei em desespero quando não te vi, porque tive medo de ter perdido você. Faz ideia do tanto que fiquei desesperada?

O fruto do nosso amorOnde histórias criam vida. Descubra agora