• Maiara •
Ana: Não vai jantar, querida? — Ana perguntou quando entrei pela porta da cozinha e, após cumprimentá-la com um simples 'oi', simplesmente passei direto, na intenção de ir para o meu quarto.
Parei, virando-me para ela. Ana era um pouco mais nova que a minha mãe – talvez tivesse uns cinco ou seis anos a menos – e era uma mulher bem bonita, com seus cabelos castanhos bem compridos e os olhos esverdeados. Eu não pretendia admitir aquilo tão rápido assim, mas a verdade era que eu já simpatizava com ela.
Talvez eu já, até mesmo, gostasse dela. O divórcio dos meus pais não teve nada a ver com Ana – aliás, meu pai apenas a conheceu um ano depois. E minha mãe nunca teve qualquer problema com ela. Não eram amigas – mesmo porque, mal se conheciam – mas também não se odiavam nem nada do tipo.
E, ainda que qualquer uma dessas coisas tivesse acontecido, eu já era grandinha demais para sentir aquela sensação de que me dar bem com a atual esposa do meu pai pudesse representar alguma espécie de traição à memória da minha mãe. A questão é que existia ainda uma barreira emocional entre o meu pai e eu. Tipo uma muralha construída por tantos anos de afastamento.
Havia uma mágoa forte em meu peito pela ausência dele em minha vida. E, às vezes, ele parecia tentar derrubar aquilo... Mas a verdade é que ele não levava o menor jeito. Então, quando fui para lá, meio que senti que o mesmo acabasse se estendendo à Ana. Mas não foi o que aconteceu, porque ela era bem diferente dele. E bem diferente, também, do que eu imaginava. Ela era legal comigo. Mas não um legal tipo "vou tentar te agradar porque você é filha do meu marido e ele foi obrigado a te trazer para dentro da minha casa contra a minha vontade". Era um legal genuíno. Ela tinha uma preocupação comigo que parecia real e até mesmo meio maternal.
Maiara: Eu já venho — respondi. — Eu vou só tomar um banho e já desço.
Ana: Tudo bem. Poderia aproveitar para chamar o Eduardo para mim?
Assenti e voltei a andar, seguindo pela sala e subindo as escadas até o meu quarto. Coloquei minha bolsa sobre a cama e peguei algo dentro dela. Foi nesse momento que a porta se abriu e Eduardo entrou.
Eduardo: Que bom que você chegou. Você pode me emprestar seu caderno com a aula de Química de hoje? Eu estava distraído e acabei não anotando nada, vou acabar me ferrando nas provas.
Além de meu 'irmão postiço', Eduardo também era, agora, meu colega de turma. E era, também um intrometido sem noção.
Maiara: E você poderia bater na porta antes de entrar? — retruquei. — Eu poderia estar pelada.
Eduardo: Grande porcaria. Você é minha irmã e, ainda que não fosse, não tem nada aí que me despertasse a atenção. Sem ofensas.
Pensei em reforçar a informação de que não éramos irmãos, mas sabia que de nada adiantaria, já que Eduardo parecia definitivamente não entender isso. Além do mais, precisava confessar que, além de já simpatizar com Ana, eu já gostava de Eduardo. Mesmo que ele fosse um chato inconveniente. E por falar em conveniência, ele neste momento percebeu que eu tinha, por instinto, tentado esconder minha bolsa atrás do meu corpo.
Eduardo: O que tem aí? — ele perguntou.
Maiara: Nada. É só a minha bolsa.
Eduardo: E o que está escondendo dentro dela? Aliás, hoje você chegou bem tarde em casa... O que está acontecendo? Ai, Maiara, não me diga que está usando drogas?
Maiara: O quê? Não.
Eduardo: Sei que a princípio parece uma boa fuga para o sofrimento, mas, acredite, não é a resposta para nada.
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O fruto do nosso amor
FanfictionEles se apaixonaram na adolescência. Mas um reencontro, anos depois, revelou que o médico milionário era pai. Fernando e Maiara se conheceram no ensino médio. Ele era o garoto milionário da cidade, o popular que já estava cansado de toda a bajulaç...