Capítulo 70

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Sina Deinert

Tudo está cinza em minha vida.

Parece que eu estou deitada de barriga pra cima enquanto tem alguém enfiando lentamente uma adaga em meu peito.

Nada me faz aceitar isso, eu o perdi.

Recebi aquela notícia e simplesmente me desesperei após minha ficha realmente cair. Tudo o que me lembro era de uma médica entrando no quarto e me dando uma injeção enquanto eu ouvia o choro de Noah.

Já fazem três dias que estou em casa, casa a qual nem sei onde fica. Não é a mesma mansão de Heyoon, Noah apenas me disse que eu iria ficar segura aqui.

Não queria ver ninguém, não conseguia olhar para a cara de ninguém sem conseguir ficar sem chorar. As únicas pessoas que falaram comigo foram Mari e Noah, isso no primeiro dia em que acordei nesse quarto.

Mariane me disse que sentia muito e que estava decidida a matar todos aqueles que me fizeram mal. Sem força alguma para discutir, eu apenas a proibi de sair de casa, seja lá qual for a que ela esteja.

Noah veio me oferecer comida, me dizer que eu precisava beber água e tomar meus remédios, mas eu nem me movi.

Ele não está bem, sei que não está, mas acho que parte dele sabe que tem que ficar firme para me ajudar. O problema é que no momento eu não quero ser ajudada.

Tranquei aquela porta do quarto e pedi apenas para ficar sozinha, eu só precisava de um pouco de espaço e tempo para conseguir lidar com isso. Mas parece que quanto mais o tempo passa, mais eu me sinto quebrada.

Eu deveria ter me controlado mais, deveria ter tomado mais cuidado… mas não consegui. Acho que se alguém tivesse arrancado meu coração fora sem anestesia doeria menos.

Nunca vi seu rosto, não sabia se ia puxar a mim ou a Noah, mas eu o amava… era meu bebê, nosso filho.

Estou a dois dias encolhida na cama, o ar-condicionado está ligado e eu estou debaixo das cobertas ainda chorando. A sensação era sufocante, mas eu não conseguia fazer mais nada a não ser isso.

Escutei uma batida na porta e tirei a coberta da minha cabeça. Lá fora já era de noite, mas eu não fazia ideia de que horas eram.

— Vai embora. — digo com a voz fraca.

— Sina já faz dois dias, você precisa comer algo. — escutei a voz de Noah e fechei os olhos.

No primeiro dia Mari me obrigou a comer, era uma sopa horrível e eu me lembro de quase botar tudo pra fora. Depois desse dia eu me isolei, não saia e ninguém entrava, só ia ao banheiro porque era necessário.

Quando perdi meus pais foi assim, e também foi assim que aprendi a lidar com a minha dor. Sozinha! É como se eu visse o rosto de alguém e essa dor aumentasse dez vezes mais, porque tudo simplesmente me faz lembrar algo.

Juntei minhas forças para pedir pra ficar sozinha, mas ouvi um barulho e logo a maçaneta girou abrindo a porta. O quarto estava uma verdadeira escuridão e a luz que veio da porta fez eu me encolher mais nas cobertas.

Então tudo voltou a ficar escuro novamente, me dando a certeza de que a porta voltou a se fechar. Passos curtos se aproximaram da cama e eu fechei os olhos quando a luz do abajur se acendeu.

— Te ver assim está me destruindo aos poucos. — virei minha cabeça e apenas vi Noah agachado ao lado da cama. — Eu sei que está doendo, mas você precisa comer alguma coisa, não quero te perder. — senti minha vista embaçar e neguei.

— Nada desce. — digo com a voz trêmula e me ponho a chorar novamente.

É por isso que não consigo ver ninguém, não tenho a capacidade de falar nada sem sentir meu peito apertar.

O colchão ao meu lado se afundou e eu logo senti suas mãos me puxarem para perto. Abracei sua cintura e afundei minha cabeça em seu peito sentindo seu carinho em meus cabelos.

Naquele dia Noah chegou a me pedir desculpas dizendo que a culpa era dele, mas eu me neguei a deixar ele continuar dizendo aquilo. Ele fez o seu melhor me ajudando, acho que não conseguiria imaginar ele sendo tão cuidadoso com alguém, como foi comigo...

Só que eu não aguento mais dor em minha vida, realmente parece que tudo o que eu amo se vai… não quero perder ele também.

— Queria poder pegar sua dor pra mim. — escutei sua voz embargada. — Queria fazer qualquer coisa só para ver um sorriso em seu rosto novamente.

— Só fica aqui. — apertei ele. — Por favor.

— Não vou sair do seu lado. — depositou um beijo em minha cabeça.

E ali ficamos por um longo tempo, Noah me fazia um leve carinho enquanto eu me acalmava aos poucos.

Antes de sair do hospital a médica me disse que eu deveria ir em um psicólogo. Já passei por tanta coisa nessa vida que queria jogar na cara dela "não é um psicólogo que vai amenizar minha dor", mas resolvi me calar e seguir meu rumo. Talvez isso seja bom, me sinto muito perdida.

Voltei a me acalmar e encarei Noah.

— Tem alguém nessa casa? — ele negou. — E você ficou sozinho esse tempo todo? — pergunto com um peso na consciência.

— Minha mãe falou comigo esses dias. — disse me olhando. — Ela sofreu com a notícia, mas também me disse que alguém tinha que tentar ficar firme para ajudar o outro.

— Queria apagar esse dia da minha vida. — voltei a abraçar ele. — Acho que nada vai me fazer ficar bem.

— Você precisa ficar. — se separou segurando meu rosto com uma mão. — Ele está em um lugar melhor, tenho certeza de que seus pais devem estar cuidando bem dele. — meu peito voltou a apertar.

— Isso doeu mais. — voltei a abraçar ele.

O silêncio se fez presente novamente e tudo o que ouvíamos eram nossas respirações.

...

— Posso fazer algo pra você comer? — neguei. — Maria…

— Não tenho apetite. — me separei do abraço.

— Eu também não tenho, mas comi mesmo assim. — encarei ele.

— Só quero dormir. — digo me enfiando debaixo das cobertas.

Minha cabeça estava latejando de tanta dor que sentia e eu só queria apagar de uma vez.

Me virei para o outro lado e logo senti ele me abraçar por trás. Entrelacei sua mão na minha e apenas relaxei sentindo sua respiração quente em meu pescoço.
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O que falta em você sou eu...K

Nós vemos no próximo capítulo☆

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