POV VALENTINASenti um medo me dominar no momento em que Luiza passou pela porta do meu quarto. Me senti burra por ter me precipitado e ter me declarado dessa maneira, ela deve ter se assustado e agora tenho medo dela se afastar.
Me joguei na cama deixando as lágrimas rolarem livremente. O medo de ter estragado tudo vinha ao lado da possibilidade de Luiza só estar assustada, afinal de contas ela fez a mesma coisa quando nossos lábios se tocaram a primeira vez Suspirei profundo, secando os olhos, amanhã será um novo dia, eu tenho certeza.
Encarei meu celular com desejo de ligar pra ela, mas sei que preciso dar um tempo pra ela processar tudo que aconteceu hoje, vou esperar que ela absorva tudo. No meu íntimo eu pedia pra Deus baixinho pra Luiza não se afastar e entender que eu a amo de verdade.
{...}
O domingo amanheceu ensolarado, abri os olhos com dificuldade e o sol invadiu meus olhos, passei a mão pelo rosto na expectativa de que hoje seria um dia melhor, e logo me lembrei do churrasco na casa das nossas professoras. Eu não podia furar, e também é a minha oportunidade de conversar com Luiza, sei que ela pode ter se assustado, mas sei que ela vai me ouvir e entender que eu não quero que ela se sinta pressionada a superar as minhas expectativas. Se ela não me ama ainda, não vou cobrar esse sentimento dela, apenas quero que ela saiba que eu a amo, com todo o meu coração.
Me levantei decidida a contar pra minha mãe sobre a minha sexualidade, está na hora de encarar esse problema de frente. Tomei um banho demorado, me vesti e desci pra tomar café. Encontrei minha mãe e meu irmão montando a mesa de café e ambos estavam calados, o clima da casa parecia pesado.
-Bom dia. – Falei assim que sentei.
-Bom dia. – Meu irmão e minha mãe responderam juntos.
Nenhum dos integrantes da mesa parecia querer qualquer tipo de interação, todos estavam submersos nos próprios pensamentos. Tomamos café sem qualquer tipo de conversa, apenas comíamos em silêncio, até que Igor quebrou o silêncio.
-Tina, sairemos que horas? – Ele se virou esperando minha resposta.
-E vão pra onde? – Minha mãe perguntou curiosa.
-Hoje temos um churrasco na casa das minhas professoras, acho que esqueci de te avisar. – Já esperava minha mãe se opor e até mesmo me impedir de ir.
-Então não vão almoçar em casa? – Franzi o cenho, mas logo tratei de me recompor.
-Provavelmente não, quer ir conosco? – Perguntei de forma educada, senti minha mãe diferente nessa manhã, ela parecia pensativa e triste.
-Vão vocês e se divirtam, vou passar o dia estudando um caso. – Assenti.
-Não é pra passar o dia todos trabalhando, dona Catarina. – Igor brincou. – Cadê a Vanessa? Chama ela pra te fazer companhia.
Minha mãe entornou o café da xícara de forma nervosa, olhei confusa com o desastre causado. Ela não respondeu meu irmão e saiu para a cozinha atrás de um guardanapo pra limpar a própria bagunça.
-Tá tudo bem, mãe? – Meu irmão perguntou notando minha mãe aérea.
-Sim, não está na hora de vocês se arrumarem? – Ela respondeu sem nos encarar. – Não voltem tarde.
Meu irmão se levantou avisando que iria se arrumar, assenti e respirei fundo antes de fazer o que eu precisava fazer. Essa conversa tinha que vir de algum jeito. Acho que está na hora de arrancar o curativo e falar de uma vez só, eu não quero esconder quem eu sou.