Fica aqui comigo?

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POV VALENTINA

Quando me dei conta que Luiza não iria à aula, meu dia ficou cinza. Nós duas passamos a nos falar todos os dias, tanto na escola, tanto por mensagens e ligações. Ficávamos horas falando de coisas banais do dia a dia e papo mais profundos. Estranhamente eu conseguia me abrir com muita facilidade e Luiza sempre estava disposta a me ouvir.

O dia passou arrastado, fiz minha prova com Rafa e senti que fui bem melhor do que a outra vez, fiquei feliz em poder repetir a prova, pois se minha mãe visse essa nota, eu estaria ferrada. Na parte da tarde fui para o clube de teatro, e Rafa tinha razão, foi uma experiência incrível, porém senti falta de energia da Luiza.

Fui pra casa com uma sensação de vazio, era muito estranho me sentir assim, pois eu nunca fui apegada a nenhum amigo. Durante o jantar eu nem prestei atenção no que minha mãe dizia, só queria terminar de comer e subir pra ver se conseguiria falar com Luiza, saber se tinha acontecido algo. Mal engoli a comida, me despedi da minha mãe e subi correndo pro quarto.

Luiza não estava bem, dava pra ver no modo dela escrever, ela não era assim. Tentei fazer com que ela se abrisse, mas ela não quis e eu não forcei a barra, respeitei o tempo dela, assim como ela faz comigo. Dei boa noite e torci internamente pra que ela ficasse bem, Luiza é alguém muito alegre, esse jeito triste não combina com ela.

Acordei antes mesmo do despertador tocar. Me arrumei e antes de descer mandei uma mensagem de bom dia pra Luiza, porém não obtive respostas, guardei o aparelho na bolsa e desci pro café da manhã.

-Bom dia, Valentina. – Minha mãe tinha uma expressão séria no rosto.

-Bom dia, Mãe. – Me sentei e a encarei por alguns minutos. – Aconteceu alguma coisa?

-Vou assinar o divórcio. – Sua voz saiu um pouco embargada. – Acabou.

Fiquei um tempo olhando para ela, minha mãe de fato parecia triste com a situação e aparentemente ela tinha esperanças que voltaria com o meu pai. Entretanto eu nunca alimentei isso, os dois sempre foram muito opostos, talvez eles tenham se amado um dia, mas esse amor não existia mais, só havia brigas e discussões. A ponta do icebergue foi quando minha mãe aceitou a proposta de vir ser uma das sócias do escritório do Rio e não comunicou o meu pai, apenas disse que precisávamos nos mudar. Meu pai ficou furioso e disse que estava cansado da minha mãe controlar tudo sempre, resultado foi um pedido de divorcio e nossa mudança pra cá, deixando meu pai e meu irmão em São Paulo.

-Você está bem? – Perguntei sem saber o que dizer a ela.

-Não sei. – Ela passou a mão no rosto dando um longo suspiro. – Vou assinar essa droga logo, se é o desejo do seu pai se ver livre de mim, que assim seja.

-Não é bem assim, mãe. – Falei incomodada. – A amizade de vocês pode continuar.

-Há tempos que nossa amizade acabou. – Ela me encarou por um segundo em seguida desviou o olhar. – Enfim, como anda a escola?

-Tá normal. – Dei os ombros bebendo meu café. – Fiz minha primeira aula extra no clube de teatro.

-Clube de teatro? – Minha mãe franziu o cenho.

Me arrependi no mesmo momento de ter falado isso, já estava preparada para ouvir um longo sermão, de que eu deveria estar preocupada com o vestibular e não com essas besteiras que não dão futuro.

-Sim.

-Interessante. – Ela passava geleia na torrada tranquilamente. – Fiz teatro na escola, foi ótimo pro meu desenvolvimento pessoal e oratória. Isso é bom, você como advogada vai ter que se soltar mais.

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