Pai?

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POV LUIZA

Depois de se despedir com alguns beijos na porta da minha casa, Malu me deu tchau e entrou no carro da mãe dela. Viemos da sorveteria direto pra cá, estava doida pra chegar em casa.

Assim que entrei, dei de cara com Carol descendo as escadas, ela não disse nada e seguiu pra cozinha, fui atrás, me sentando na bancada arrumando um jeito de conversar com a minha irmã.

-Tá tudo bem? – Perguntei quebrando o silêncio sepulcral.

-Sim. – Carol continuou separando os ingredientes do sanduíche.

-Cadê a mamãe? – Continuei tentando, mas ela nem ao menos fazia contato visual.

-No quarto. – Encolhi os ombros e continuei ali observando minha irmã. 

Carol terminou o preparo do lanche e sentou mexendo no celular, continuei a encará-la e viajei na época que nós duas éramos pequenas. Lembro que todo sábado meu pai nos levava a praia e passavamos a manhã inteira fazendo castelinho de areias, e quase todo domingo, íamos pro maracana ver o Flamengo jogar.

-Tá rindo de que? – Carol perguntou ao notar que eu viajava nas minhas memórias.

-Lembra aquela vez que você me enterrou na areia, me deixou lá e foi pra água e eu peguei insolação por ficar muito tempo no sol? – Falei sorrindo e ela continuava me olhando. – Foram dias horríveis, minha pele parecia um torresmo.

-Você dormiu. – Ela disse dando meio sorriso.

Sorri e o silêncio prevaleceu novamente. Queria saber mais sobre essa gravidez, mas ao mesmo tempo estava sem jeito de perguntar. Também queria pedir desculpas, me senti culpada por ela se sentir preterida em relação aos nossos pais.

-Carol, quero te pedir desculpas. – Ela me encarou de novo. – Eu não fazia ideia que você se sentia assim, eu não fiz por mal, eu não queria ter transformado a minha viagem em algo maior que nossa família.

-Tanto faz, Luiza. – Carol pegou a louça que ela sujou e colocou na pia.

Suspirei pesado e ouvi a porta abrir, meu pai entrou devagar e olhou nos duas na cozinha.

-Oi pai. – Me levantei e o abracei apertado.

-Oi filha. – Ele beijou meu cabelo e Carol saiu da cozinha sem dizer nada.

-Até quando vocês vão ficar assim? – Perguntei olhando em seu rosto.

-Não sei, Lu. – Meu pai tinha uma expressão de cansaço. – Isso me pegou desprevenido, sua irmã ainda é uma criança, como ela me apronta uma dessas? E ainda sua mãe com essa ideia de querer tirar o bebê.

-Eu não gosto de ver a nossa família assim. – Falei em um choramingo. – A gente era tão unido, sempre fomos parceiros em tudo.

-Eu sei, meu amor. – Ele beijou minha testa. – Vou subir, qualquer coisa eu estou no quarto de hóspedes.

Meu pai subiu e meu coração apertou, era uma situação horrível, eu nunca pensei em passar por algo parecido. Passei as mãos pelo cabelo e subi, passei no quarto da minha mãe, mas a porta estava trancada. Entrei no meu quarto e logo joguei minha mochila no canto, tirei os sapatos e me joguei na cama completamente exausta. E pra acabar de bagunçar minha cabeça, o torneio regional acontecerá na próxima sexta e isso está me deixando ainda mais ansiosa.

{...}

Na manhã seguinte, encontrei apenas minha mãe sentada na mesa do café, isso era muito estranho, pois nunca fizemos nossas refeições longe um do outro, era um momento sagrado para nós.

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