Louise
Talvez meu primo tenha razão e eu tenha um demônio dentro de mim.
Não é uma novidade que eu ouça vozes na minha cabeça, afinal, tenho um transtorno mental, e isso é algo comum para mim, mas... nenhuma das vozes que eu escutava me mandou matar alguém. Era mais sussurros e gritos, nunca um comando direto.
Último aviso, Meu Anjo. Mate-o, ou eu o farei.
O homem-que-controla-as-criaturas só pode estar de brincadeira comigo. Ele não pode querer realmente que eu tire uma vida.
Talvez meu pai esteja certo e o diabo exista...
Não, Louise. Ele não existe, seu psicólogo já disse mil vezes, são só coisas da sua cabeça. Não é real.
Ele não falou mais nada na minha mente depois da última coisa que disse. Fiquei alguns minutos esperando, mas nada. Então entrei para dentro e ignorei aquela frustração por não ouvir sua voz aterrorizante por mais tempo.
É como um membro fantasma, eu sei que não está lá, mas sinto falta.
– O que aconteceu com você? Parece que viu um fantasma.
Ergo o rosto e encaro minha irmã, já deitada na cama com as roupas de dormir.
– Como?
– Sua cara está mais pálida do que o normal – ela comenta, oferendo um espelho. – Sério, Lou, um solzinho não faz mal a ninguém.
Mostro o dedo do meio para ela e caminho até o banheiro. Tranco a porta dessa vez. Não quero mais um alvoroço por conta dos meus ferimentos.
Dylan não falou mais nada sobre o assunto, mas seu rosto mostrava um certo incômodo. Talvez realmente me ache louca e não tenha coragem de dizer na minha cara como o resto do mundo. Ou talvez esteja com medo de tudo. Eu estaria se fosse ele.
– Por que Dylan estava tão estranho quando voltamos? – Mia pergunta, como se também tivesse notado sua expressão durante a viagem.
– Não sei – minto, ainda dentro do banheiro, tirando o moletom. Mas o que eu vejo em seguida me faz arregalar os olhos. – Merda.
Os ferimentos nos meus braços. Ou melhor, os ferimentos que não estão mais nos meus braços. Todos os cortes sumiram, cicatrizaram. Nem as cicatrizes existem mais.
Não há nada. Nada que prove que fui atacada por um demônio no meu pesadelo. Se Dylan não tivesse visto, eu diria que essas marcas nem existiram de verdade, que eram apenas coisas da minha cabeça.
Mas ele viu. Eu não estou louca. E doía. Eram como cortes verdadeiros.
E agora sumiram. Rápido demais...
Toco meu ombro com meus dedos. E, como esperava, a marca da garra do Sewn também sumiu.
– Sabe do que você precisa? – Mia questiona, sua voz cada vez mais alto, como se ela estivesse ao lado da porta. – Festa.
Reviro os olhos.
– Não preciso de festa, Mia. – Tiro a calça xadrez e o sutiã antes de vestir as roupas de dormir. – Preciso de paz.
– Ah, mas eu conheço uma paz. E ele é bem gostoso, você iria adorar.
Abro a porta, já vendo seu sorriso malicioso me perseguindo.
– Não quero garoto nenhum. Estou ótima sozinha.
– Ninguém fica ótima sozinha.
– Eu fico.
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Burning In Hell: A Garota e o Diabo (Livro I)
RomanceO que aconteceria com o mundo se o diabo se apaixonasse por uma humana? Louise Quinn é uma garota não muito normal, já que foi diagnosticada com esquizofrênica aos cinco anos de idade. Louise costuma ter pesadelos todas as noites com criaturas de ou...