Capítulo 2 - Não confunda inteligência com medo, Meu Anjo

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Louise


– Certamente vocês já ouviram falar sobre as sereias – o professor de mitologia começa a aula, sem a atenção da maioria dos alunos, como sempre. – Mas aposto um saco desses salgadinhos que nunca ouviram falar das Cecaelias.

Os alunos que estão atentos sorriem. Total de duas pessoas, Dylan e eu.

Adoro essa aula. Amo mitologia e suas histórias, embora algumas delas me acompanhem nos meus pesadelos e até nas horas em que estou acordada.

– Nunca ouvi falar, professor – Dylan admite, ao meu lado. – Mas se quiser compartilhar o salgadinho...

Ele ri, mas, para o azar do meu melhor amigo, não joga o salgadinho.

Cecaelias são seres da mitologia grega que habitam o mar – ele continua sua explicação. – A parte superior delas é humana e a inferior é formada por tentáculos. Um dia, um aluno me disse que elas eram a mesma coisa que sereias, só que "era um polvo".

O professor nos mostra a foto da criatura no slide, e eu me admiro com a pintura extremamente detalhada. Aparentemente é uma mulher com cabelos prateados muito, muito linda. Pelo menos do abdômen para cima. E com certeza não é uma sereia. No lugar das pernas não há uma calda, mas oito tentáculos enormes na coloração rosa e lilás.

– Também há Cecaelias de cabelos dourados, mas, em geral, elas têm esses fios prateados.

– E elas atacam os humanos como as sereias? – Dylan pergunta, e o professor faz que não com a cabeça.

– Elas são consideradas criaturas tranquilas e amáveis. E há raros casos de histórias sobre conflitos entre esses seres. Porém não vamos esquecer que qualquer ser, independentemente de ser real ou mitológico, se ameaçado, reagem e tentam se proteger. As cecaelias não são diferentes. Elas soltam uma nuvem de tinta preta se acharem que estão em perigo.

Dylan e eu assentimos, focados nas fotos da criatura belíssima.

O professor continua a explicação, mas meu foco se volta ao livro de mitologia grega em cima da minha mesa. Nenhum deles fala sobre o tal Sewn de que o Dr. Relish falou. Nada sobre seres com as pálpebras costurados e que comem olhos. Simplesmente nada.

Depois que Dylan me mostrou a marca no meu ombro, ontem, eu não sabia o que fazer ou falar. Foi no mesmo lugar em que um dos Sewns havia me atacado. Posso ter me machucado em algum lugar e não ter visto, mas... a marca da sua garra é idêntica ao pesadelo.

E eu estou tentando não surtar com isso. Uma coisa seria eu ver e achar aquilo real, afinal, sou esquizofrênica, vejo coisas que ninguém mais vê. Mas Dylan... Não é algo do meu subconsciente, a marca está no meu ombro. A não ser que ele também tenha esquizofrenia e não saiba, essa marca é muito real.

– O senhor pode me falar um pouco sobre os Sewns – peço ao professor, quando ele termina a explicação e fecha os slides.

Ele aperta os olhos.

Sewns?

– Sim. Criaturas que comem olhos. E os deles são costurados.

O professor sustenta sua expressão de confusão.

Sewns? – ele repete. – Nunca ouvi falar sobre esses seres. São de que mitologia?

Merda. O psicólogo não me disse. E só temos uma sessão na próxima semana.

– Para falar a verdade, não sei. Apenas... – paro de falar, pensando em como poderia explicar que sonhei com essa criatura que supostamente me feriu de verdade. – Vi na internet.

Burning In Hell: A Garota e o Diabo (Livro I)Onde histórias criam vida. Descubra agora