Burning In Hell: A Garota e o Diabo (Livro I)

Capítulo 14 - Eu não me sinto atraída por você

Louise

Estou beijando Dylan.

Nunca e em sã consciência eu me imaginava fazendo isso, ou ao menos ter vontade para fazer isso. Todas às vezes que ele sequer dava indícios de que tentaria me beijar, eu me afastava e mostrava com ações que não queria aquilo.

Ainda assim, estou aqui, sentindo seus lábios quentes sobre os meus e sua mão redor da minha cintura. Ainda assim, seguro seu ombro, arrastando contra meu corpo.

No entanto, diferentes dos seus olhos azul-safira, os meus estão abertos e atento na figura de cabelos preto-azulado a alguns metros de nós dois.

O homem-demônio – maldito diabo – nos observa sem piscar um segundo sequer. Seu corpo, coberto pela roupa social preta, se contrai, assim como seu maxilar e algumas veias no seu pescoço.

Esse maldito manipulador e mentiroso acha que tem algum poder sobre mim, mas está errado.

Durante todos esses meses que esteve fingindo ser meu psicólogo, ele me aconselhou a enfrentar meus medos e meus pesadelos, quando, na verdade, ele me mandava enfrentá-lo. Era como se eu sentisse a necessidade de fazer o que ele mandava, mesmo que eu não soubesse que estava o fazendo.

Talvez se eu não tivesse feito isso, confrontá-lo, ele não estaria mais na minha vida e nada disso tivesse acontecido.

Ele me manipulou e mentiu todo esse maldito tempo em que eu me abria e falava sobre as minhas inseguranças e coisas que eu nunca falaria para qualquer outra pessoa.

Eu o odeio.

E posso parecer uma criança fazendo isso, mas, no momento em que ele falou aquilo – "Me bata e me esfaqueei, mas fale comigo" –, beijar Dylan foi a primeira coisa que veio à minha mente.

Sinto um ofego escapar da boca de Dylan, me fazendo lembrar que ele ainda está aqui, e eu ainda estou o beijando. E ainda sou uma pessoa horrível.

Olho para o diabo uma última vez, vendo-o com os punhos cerrados e o rosto totalmente sombrio. E então consigo me afastar por total força de vontade minha. Meu olhar encontra o de Dylan e toda minha fúria e vingança some da minha mente quando vejo a esperança nos seus olhos claros.

Idiota. Idiota mil vezes. Não deveria ter feito isso...

Eu o usei. Usei da forma mais cruel possível. Porque eu sabia. Sei que ele tem sentimentos por mim e que eu não correspondo. Ainda assim, fiz isso, o usei para atingir outra pessoa.

A culpa arrebenta meu coração, confirmando mais uma vez o lugar para onde vou quando morrer.

– Dylan...

– Louise – ele diz no mesmo momento que eu, e nós nos atrapalhamos mutualmente. – Isso foi... Nossa.

Abro a boca para dizer que isso foi um mal intendido, ou melhor, que a sua melhor amiga é uma idiota louca que não estava pensando em nada além de ódio durante o beijo, mas não consigo dizer nada.

Talvez isso só deixe as coisas piores.

Não. Ele tem que saber que eu não quis isso de verdade. Tenho que acabar com isso antes que ele se machuque ainda mais.

– Dylan, eu preciso ex...

– Não, não fala nada. – Ele acaricia minha bochecha com seus dedos. – Não estraga esse momento.

Fecho os olhos por um segundo.

Por que eu tenho que ser tão burra e idiota?

Seus cabelos loiros deslizam na sua testa quando ele se aproxima do meu rosto outra vez, aquecendo minha pele com seu hálito que, assim como o meu, cheira a vodca pura.