Burning In Hell: A Garota e o Diabo (Livro I)

Capítulo Extra - Ravena

Ravena

Quando eu encontrar aquela vadia da Beatrice, vou arrancar o único olho que restou dela.

Louise ainda não acordou do Sono Profundo, e já faz semanas. Não acho que tenha algo sobre o Beijo da Morte nos livros, mas continuo trazendo todos os que consigo da Biblioteca da Magia para Aren ler. Ele não sai do lado de Louise nem para comer. Esperávamos que ele fosse encontrar a Tríade do Inferno para matá-los, mas nem isso o fez sair do quarto em que Zion ofereceu para Louise. Para os dois, na verdade. Então eu mesma estou caçando o restante dos malditos demônios ainda vivos que lutaram com Scarlett naquele maldito dia.

Aperto a faixa de couro ao redor da minha cintura e saio pelos corredores da casa de Zion, tentando não encontrar nenhum deles pelo caminho. Meu foco hoje é encontrar os três demônios, embora eu me contente só com a vadia da Beatrice.

Ela e eu... temos assuntos inacabados. Se não por aquela noite que quase morremos, então pelos anos de ódio multo que sentimos.

Houve um tempo em que éramos... amigas. Depois de conhecer o diabo e me tornar parte disso, Beatrice foi a única fêmea que eu mantive contato. Morar com o diabo e ser da "Realeza" não deixa muito espaço para demônios quererem estar com você. Mas Beatrice foi diferente. Conheci ela antes de conhecer os dois idiotas com quem ela andava, há muitos, muitos anos atrás. A Tríade não era como é hoje, eles não tinham a fama que conseguiram com o tempo. Boa parte dela se deve ao diabo ter os torturado não sei quantas vezes. Ainda assim, eles eram diferentes. Obviamente, eu só mantinha contato com Beatrice, a Bruxa e o Metamorfo vieram de brinde nessa amizade maluca.

Scarlett não era nada a favor disso, mas eu odiava aquela vadia, então nunca me preocupei com o que ela achava ou deixava de achar. Só me importava com o que Aren pensava. Mas ele nunca se importou. Na verdade, nunca fez diferença que Beatrice as vezes estivesse na Casa do Fogo. Tinha quartos demais naquela casa, embora ela só usasse o meu.

Mas então tudo mudou.

E hoje estamos de lados diferentes – hoje eu estou a caçando para poder matá-la por ter tentado nos matar. Que amizade poética...

Interrompo meus pensamentos. Não é hora para sentimentalismo idiota. Caminhando em frente à taverna que Alec adora frequentar, eu espio a movimentação. Não há muitas pessoas, mas acredito que logo após o entardecer vai estar lotado de demônios bêbados e prontos para serem roubados de alguma forma. Suspeito que Alec já tenha perdido muitas moedas de ouro nas suas noitadas no Fire's Pub.

Passo por algumas fêmeas com decotes alarmantes e entro no pub. O lugar não é tão grande assim, nem sei por que todos vêm a esse lugar todas as noites. As paredes são de um granito surrado, e há muitas rachaduras por todos os lugares. Há também mesas espalhadas por todo o cômodo que daria uns dois quartos da Casa do Fogo. O cheiro é horrível e as pessoas estão sempre com cara de quem vai começar uma briga. Estou ansiosa por uma.

– Dá pra sair do meio... – um macho fecha a boca quando repara com quem está falando.

Confesso que, em parte, eu gosto um pouco da fama que o diabo tem, porque ela abrange a nós também. Houve um tempo que eu não era assim, colocava medo nos olhos de demônios velhos e bêbados como esse. Houve um tempo em que eu era a presa fácil. Crescer em um lar onde havia dezenas de crianças não ajudava a passar despercebida por machos que nem esse. Mas hoje é diferente. Hoje, apenas com um olhar meu, eles somem de vista, exatamente como acontece agora.

O velhote coça a barba enquanto se esconde entre as mesas. Ser a torturadora do diabo sempre faz com eles fujam de mim.

Mas o foco aqui não é torturar nenhum macho qualquer, mas uma fêmea em específico. Beatrice não costumava frequentar lugares como esse, a etiqueta daquela demônia nunca permitiria isso – ela sentiria ânsia de vômito só em chegar perto da entrada. E é por isso que eu sei que está se escondendo por aqui.